15 de Junho de 2015

Homilia – 11º Domingo do Tempo Comum – (Ez 17, 22 – 24; Sl 91; 2Cor 5, 6 – 10; Mc 4, 26 – 34)

Celebramos hoje o décimo domingo do Tempo Comum e a liturgia nos mostra que o projeto de salvação que Deus tem para a humanidade revela-se no anúncio do Reino feito por Jesus de Nazaré. Nas suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova realidade; lançou a semente da transformação dos corações, das mentes e das vontades de forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de acordo com os esquemas de Deus.

No Evangelho que ouvimos Jesus conta duas parábolas para falar do Reino de Deus: a da semente que lançada a terra, cresce por si só e produz frutos no tempo da colheita e a do grão de mostarda que é a menor de todas as sementes e a maior de todas as hortaliças. Estas parábolas demonstram que o Reino de Deus não é algo já feito ou concluído, é um processo que vai sendo desenvolvido com a cooperação e participação de cada pessoa, deixando sempre espaço para o Espírito Santo agir.

Ao refletir sobre a primeira parábola, entendemos que o importante da vida é servir, é cumprir o nosso dever, é semear sem se preocupar com a colheita. A pequenina mostarda ajuda a compreender que não é preciso fazer grandes coisas, grandes realizações, grandes ações para termos a pretensão de reconhecimento que aos olhos humanos é comum, mas, para Deus, importa a dimensão do bem mesmo que a ação seja pequena. Os pequenos e significativos atos poderão produzir grandes efeitos se realizados com amor, dedicação, reta intenção e desprendimento.

O importante no desenvolvimento de toda ação é a intensidade de amor que expressamos, é a consciência de que Deus seja reconhecido como aquele que faz tudo acontecer, aquele que do nada faz grandes coisas. A lógica do Reino não está fundamentada na força do poder enquanto sinal de ostentação, de grandeza, de vanglória ou de reconhecimento próprio, mas na capacidade de fazer ou semear sem esperar recompensa, do propósito de servir e da consciência do dever cumprido.  O Reino de Deus é muito mais que reconhecimento próprio, que preocupação para gerar lucro e produtividade. O Reino de Deus é favorecer o bem, é doação sem reservas, é entrega total da vida. Assim, nós podemos saber por que muitas vezes as instituições fracassam; as ações governamentais não produzem bons resultados e o povo sofre as consequências da falta de bons propósitos, das tramas e das maldades humanas.

Na primeira leitura, somos motivados a admitir que Deus preside a história humana, tem um projeto de salvação e conduz sempre a caminhada dos homens de acordo com o seu plano; que o poder orgulhoso dos impérios humanos nada pode contra esse Deus que é o Senhor da história e que, com paciência e amor, vai concretizando o seu projeto.

Além disso, Ezequiel nos garante que Deus não falha, não esquece os seus compromissos, não abandona esse Povo com quem se comprometeu. Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às suas promessas e aos compromissos que assumiu com o seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.

O profeta ainda apresenta uma indicação sobre a lógica de Deus agir: Ele toma aquilo que é pequeno aos olhos dos homens (“um ramo novo” – Ez 17,22) e, através dele, vence o orgulho e a prepotência, confunde os poderosos e exalta os humildes. Deus prefere os pequenos, os débeis, os pobres e é através deles que concretiza os seus projetos de salvação e de graça.

Estes poucos versículos contêm uma mensagem de esperança que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada do Povo de Deus pela história.

A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra marcada pela finitude e pela transitoriedade deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa atual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada de fé.

Peçamos ao Senhor, nesta celebração eucarística, a graça do desprendimento, da renúncia das vaidades, a consciência da nossa limitação humana, a fim de que tudo faremos com o propósito de cumprir uma missão na condição de colaboradores de Deus na História da salvação.



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