06 de Julho de 2015

Homilia – 14º Domingo do Tempo Comum – ( Ez 2,2-5; 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6)

Celebrando o 14º Domingo do Tempo Comum, somos motivados a compreender que Deus manifesta-Se aos homens conforme suas realidades, contextos culturais e sociais; conforme suas fraquezas e fragilidades. Que quando não admitimos ou não entendemos essa particularidade, facilmente perdemos a oportunidade de reconhecer o Deus que vem ao nosso encontro, de acolher o seu chamado e de colaborar com Ele conforme a missão que queira confiar a cada um de nós.

A primeira leitura revela que o chamado é sempre uma iniciativa de Deus e não uma escolha nossa. Assim sendo, foi Deus que chamou Ezequiel e que o designou para o seu serviço.

Em segundo lugar, aparece a ideia de que Deus chama homens frágeis e limitados, não seres extraterrestres, perfeitos, puros, imaculados... Para Deus o que é decisivo não são as qualidades extraordinárias do profeta, mas o chamamento de Deus e a missão que Deus lhe confia. A indignidade e a limitação, típicas do “filho do homem”, não são impedimentos para a missão: a eleição divina dá ao profeta autoridade, apesar dos seus limites bem humanos. O profeta é enviado a um Povo rebelde e sua missão é apresentar a esse Povo indicações para um processo de conversão e salvação.

Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto, a partir do seu exemplo pessoal, que Deus atua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, frágeis e limitados. Na concepção do apóstolo, o ser humano, reconhecendo e assumindo a condição de pecador, de vulnerabilidade, de debilidade e a certeza de contar com a misericórdia do Pai, experimentará a graça da conversão tornando-se intermediário da graça Divina.

Nesta linha de raciocínio, o Evangelho que escutamos reafirma que Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade, na simplicidade e através dos pequenos e humildes de coração. Normalmente, Ele não se manifesta nas pessoas, nos acontecimentos e nas situações que demonstram ostentação força, poder. Nas qualidades que o mundo acha pomposo, suntuoso, imponente e que os homens admiram e endeusam; mas, muitas vezes, Ele vem ao nosso encontro na fraqueza, na debilidade, na pobreza, nas situações mais simples, insignificantes e banais, nas pessoas mais humildes e despretensiosas… É preciso que interiorizemos a lógica de Deus para que não percamos a oportunidade de encontrá-Lo, de escutar a sua voz, de perceber os seus sinais, de acolher as suas propostas de libertação, de vida e de santidade.

Os habitantes de Nazaré que rejeitam Jesus expressam uma mentalidade ainda presente nos nossos dias que preconceituosamente não valorizam, não reconhecem a autoridade e a missão de Jesus por ser uma pessoa do seu próprio meio, um simples “carpinteiro” que nunca tinha estudado com grandes mestres e que tinha uma família conhecida de todos, que não se distinguia em nada das outras famílias que habitavam na vila.

Mas, apesar da incompreensão dos seus concidadãos, Jesus reafirmou a sua absoluta fidelidade aos planos do Pai, a origem divina da sua missão, testemunhando que o Reino de Deus se manifesta na realidade real, natural e concreta da nossa vida. Tendo sido rejeitado em Nazaré, Ele foi percorrendo outras aldeias e povoados dos arredores, ensinando a dinâmica e a lógica do Reino que faz surgir do nada grandes coisas, da lama pérolas, do fracasso a vitória, do pecado a graça.

Conscientes de tais verdades, queremos agradecer, neste dia, pelos 261 anos de existência da nossa Basílica, cujo aniversário ocorreu no dia 24 de junho, próximo passado.

Agradecer pela vocação natural da Igreja do Bonfim, enquanto lugar que nos possibilita experimentar a misericórdia de Deus, portanto, o seu perdão, a sua compaixão, o seu infinito amor. Aqui chegando, nos deparamos com a sua imagem de braços abertos acolhendo a todos sem distinção, sem privilégios, sem preconceito e acolhendo-nos no seu coração.

Agradecemos pela existência deste espaço sagrado onde aprendemos repetidas vezes a lição da disponibilidade para servir, para amar o próximo como a nós mesmos, para praticar a justiça, para sermos verdadeiros e transparentes, para sermos misericordiosos e bons; para fazermos as experiências da conversão, da aceitação do diferente, da convivência pacífica e fraterna com os que professam uma fé diferente da nossa.

Hoje, na condição de devotos e de devotas do Senhor do Bonfim que cultivam um vínculo de pertença a esta Igreja, cantamos parabéns para nós mesmos, igrejas vivas, que fazemos deste lugar uma comunidade acolhedora favorecendo a união das nações, das raças, das religiões e de todas as pessoas num só coração.

Parabéns, Basílica Santuário do Senhor do Bonfim da Bahia, casa do encontro com Deus e com os irmãos, “casa da Palavra”, “casa do pão” eucarístico, “casa da caridade”, “casa do ágape”, Mansão da Misericórdia. Amém!



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