27 de Abril de 2015

Homilia – Domingo do Bom Pastor – ( At 4,8-12; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18 )

O Quarto Domingo da Páscoa, que celebramos hoje, apresenta-nos o ícone do Bom Pastor, o Senhor Bom Jesus do Bonfim, que conhece as suas ovelhas, chama-as pelo nome, cuida de cada uma com zelo, vai ao encontro da desgarrada e dá a vida por elas. Neste dia, a Igreja, no mundo inteiro, há 52 anos, costuma rezar pelas vocações. Isto é, pede ao dono da messe que mande operários para assumir a missão de anunciar a Boa Nova do Evangelho e a mensagem da Salvação. A cada ano, o santo padre escreve uma mensagem expressando o seu desejo, a sua orientação para que rezemos nesta intenção e peçamos que os atuais pastores, padres, bispos, todos tenham as mesmas qualidades, atitudes, posturas e iniciativas do Bom Pastor.

Este ano, o Papa Francisco escreve orientando-nos a “ouvir e seguir a voz de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir por Ele e consagrando-Lhe a própria vida [...], suscitando em nós o desejo e a coragem jubilosa de oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de Deus”. Alerta-nos que “a oferta da própria vida nesta atitude missionária só é possível se formos capazes de sair de nós mesmos”.

Lembra não só a nós, pastores do povo de Deus, mas a todos os batizados que “Na raiz de cada vocação cristã, há este movimento fundamental da experiência de fé: crer significa deixar-se a si mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em Jesus Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta ‘saída’ não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do próprio sentir, da própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a caminho no seguimento de Cristo encontra a vida em abundância, colocando tudo de si à disposição de Deus e do seu Reino. Como disse Jesus, ‘todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna’ (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz mais profunda no amor. De fato, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma chamada de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza a pessoa, provoca um «êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus”.

A experiência de sair de si mesmo, “é paradigma da vida cristã, particularmente de quem abraça uma vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho. Consiste numa atitude sempre renovada de conversão e transformação em permanecer sempre em caminho, em passar da morte à vida, como celebramos em toda a liturgia: é o dinamismo pascal”.

Neste domingo do Bom Pastor, pedimos a graça de sermos pessoas boas, como Jesus é bom, de nos interessarmos e nos preocuparmos uns com os outros; de nos ajudarmos estendo a mão para o irmão quando ele necessitar de nós; de oferecer o ombro quando alguém nos solicita apoio ou consolo.

A graça de testemunhar que somos irmãos, filhos do mesmo Pai, como nos ensina São João na primeira leitura, e de anunciar, como Pedro, que é pelo nome de Jesus Cristo, o nazareno, que nós arriscamos a nossa própria vida para fazer o bem, para servir com alegria. A graça de atender ao apelo do Papa para irmos ao encontro do outro, de modo particular, dos que estão vivendo uma realidade de “periferia existencial” desafiadora para curar “suas feridas”, as feridas da alma e do corpo para socorrer os pobres e os necessitados.

Aqui, na nossa Basílica Santuário, estamos comemorando hoje, 270 anos da chegada da imagem venerando do Senhor do Bonfim, ocorrida no dia 18 de abril e da fundação da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, irmandade criada pelo capitão de mar e Guerra, Teodósio de Faria, aquele que trouxe a imagem do Senhor do Bonfim da cidade de Setúbal, Portugal e que construiu este templo. A Devoção foi criada com a finalidade de perpetuar o culto ao Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Guia; de zelar, proteger e administrar esta Basílica; de conservar, dinamizar e manter, em atividade, o museu de ex-votos; de administrar e manter o centro comunitário; de promover o desenvolvimento da evangelização e da catequese; de desenvolver e estimular vínculos de amizade, fraternidade e socialização entre os seus membros, despertando sentimentos de recíproca solidariedade.

Parabenizamos os irmãos e as irmãs que fazem parte desta benemérita entidade, que durante todos esses anos vem procurando cumprir com fidelidade e dedicação sua missão. Particularmente, o atual corpo de dignitários capitaneado pelo Dr. Artur Napolião, que vem com seriedade, transparência e dedicação cumprindo a missão de cuidar deste Templo provendo tudo o que é necessário para o seu bom funcionamento e acolhimento, numa perspectiva de consideração, amizade e parceria conosco. Isto é, com a Igreja. Muito obrigado por tudo!

Queremos agradecer por este valiosíssimo presente que a Bahia recebeu esta sacrossanta imagem do crucificado, cuja expressão revela a misericórdia e a compaixão de Jesus, revela a bondade do Bom Pastor que, no madeiro da cruz, fez a entrega da sua própria vida ao Pai para nos conceder a graça da salvação.

A imagem do Senhor do Bom Jesus do Bonfim venerada nesta Basílica Santuário pela sua formosura e postura, sempre de braços abertos motiva todos nós a sermos acolhedores, ternos, atenciosos, solidários; disponíveis para praticar a caridade, servir ao próximo para acolher a todos sem distinção; motiva-nos a abrirmos os nossos braços e o nosso coração para acolher outras ovelhas que não são desse redil; a evitar todo tipo de preconceito e discriminação; a fazer o exercício do diálogo e da convivência pacífica com aqueles que professam uma fé diferente da nossa.

A imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim, estando de braços abertos nos indica que a “misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e que ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (Papa Francisco). Portanto, nós que somos devotos do Senhor do Bonfim e, particularmente, as irmãs e os irmãos estatutários, temos o nobre compromisso de revelar com atitudes, gestos e postura que a misericórdia de Deus é “uma grande luz de amor, de ternura” [...] que Deus nos perdoa “acariciando as nossas feridas do pecado” (Papa Francisco). Sejamos todos missionários e missionários da misericórdia, que é a maior expressão do amor ilimitado que emana do coração do amado Senhor Bom Jesus do Bonfim. Parabéns para a Devoção do Senhor do Bonfim; Parabéns para todo povo baiano que cultiva, como um precioso tesouro, a devoção ao amado Senhor Bom Jesus do Bonfim, que aqui do alto desta Colina Sagrada, olha, cuida, protege e livra a cada um de nós de todo mal.

Glória a Ti neste dia de glória. Amém!



Nenhum evento encontrado!