25 de Fevereiro de 2015

Homilia – 1º Domingo da Quaresma – (Gn 2,7-9; 3,1-7;Rm 5,12-19; Mt 4,1-11)

Estamos no Tempo da Quaresma e somos todos convidados a viver intensamente este período de preparação para a Páscoa fazendo uma profunda revisão de vida, dos nossos atos, das nossas ações, atitudes e posturas, em vista de uma experiência de conversão que possibilite a cada um de nós a graça de recomeçar a partir de Jesus Cristo.

São quarenta dias que devem ser marcados por uma prática mais intensa de oração, de reflexão sobre a Palavra de Deus; de renúncias, de sacrifícios, de penitência, de reparação, de perdão; de caridade, de compaixão, de solidariedade, de libertação de tudo aquilo que nos escraviza, gera dependência e submissão. A cada ano, o Tempo da Quaresma possibilita-nos fazer um processo de mudança de vida, de renovação interior, de transformação.

Neste período, desenvolve-se, também, em todo Brasil a Campanha da Fraternidade, abordando um tema que afeta o bem comum, que é motivo de preocupação para a Igreja e, consequentemente, para toda sociedade organizada.

Este ano, com o tema Fraternidade e Tráfico Humano, com o lema inspirado na carta aos Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (5,1), somos convidados a tomar conhecimento da referida realidade, refletir sobre suas consequências; a apoiar as iniciativas de campanhas conscientizadoras e de lutas pela erradicação de toda e qualquer forma de tráfico. Somos convocados a colaborar com o sistema de coleta de dados sobre o tráfico de pessoas para maior conhecimento do alcance dessa violação de direitos, para denunciar as pessoas e instituições envolvidas e intensificar a luta por políticas públicas de enfrentamento desta cruel problemática criminosa.

O Papa Francisco assim se referiu a essa prática: “o tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas!” O tráfico humano é uma das questões sociais mais graves da atualidade. “Não há país livre do tráfico de pessoas, seja como ponto de origem do crime, seja como destino dos traficados”.

Nesta perspectiva de revisão de vida pessoal e preocupação social, as leituras que foram proclamadas nos alertam quanto às tentações e as nossas reações para enfrentá-las.

Na 1ª leitura, são descritas a tentação, a fraqueza e o pecado de Adão e Eva, mostrando como o ser humano, muitas vezes, não resiste às provações, às propostas atraentes e ambiciosas que funcionam como engodos, particularmente, para os jovens e adolescentes que buscam facilidades, melhoria de vida, desejo de residir em outros países. 

No Evangelho, Jesus vence as tentações. Ele não o faz por ser Deus, mas, antes, por ser, verdadeiramente, humano, coerente e firme nos seus propósitos. Jesus não se deixa seduzir pela tentação da gula: “- Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.” Ele responde: “- Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.

Jesus rejeita o apelo para realizar uma ação com efeitos mágicos e espetaculosos: “Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo!” Ele respondeu: “- Não tentarás o Senhor teu Deus!”

Jesus não se deixa corromper pela tentação do poder: “Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse: “- Eu te darei tudo isso se te ajoelhares diante de mim para me adorar.” Ele respondeu: “- Vai-te embora, satanás porque está escrito: ‘Adorarás ao senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto ’”.

Vence as tentações aqueles que se deixam guiar pela Palavra de Deus, aqueles que têm a coragem de dizer não a todo tipo de sedução, de facilidade, de proposta ilusória.

Na segunda leitura da Carta de São Paulo aos Romanos, o Apóstolo refere-se à origem do pecado e da morte no mundo, questão expressa na 1ª leitura. O velho Adão personifica a humanidade mergulhada no pecado e a caminho da morte. O novo Adão-Cristo marca o início e personifica a humanidade introduzida no reino da graça, no caminho da vida nova e da libertação.

O Tempo da Quaresma, por ser tempo de conversão, possibilita o caminho da verdadeira liberdade. Os exercícios quaresmais do jejum, da oração e da esmola nos abrem silenciosamente para o encontro com aquele que é a plenitude da vida, com Aquele que é a luz e a vida de toda pessoa que vem a este mundo.



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