02 de Março de 2015

Homilia – 2º Domingo da Quaresma – (Gn 22,1-2.9-13.15-18; Rm 8,31-34; Mc 9,2-10)

Estamos celebrando hoje, o segundo domingo da quaresma, e temos, até a semana santa, um longo caminho a percorrer que deve ser marcado pelos exercícios da penitência, do arrependimento, da reconciliação; da prática da caridade e do jejum enquanto expressão de solidariedade, de comunhão com os que passam fome, os que sofrem, os desfavorecidos e os que têm sede de justiça; pela reflexão da Palavra de Deus; pela intensificação da oração, preocupação e sensibilidade para perceber, na sociedade, aquilo que fere a dignidade da pessoa humana, destrói a vida e gera a desigualdade social. No tempo da Quaresma, a Igreja, no Brasil, nos convida a desenvolver a Campanha da Fraternidade que, este ano, nos convoca a atuar profeticamente e numa perspectiva de serviço, levando a todos os setores da sociedade, à família e a cada pessoa que vive realidades de “periferias existenciais” a “Alegria do Evangelho”. Que como Abraão, possamos dizer: “aqui estou”, colocando-nos a serviço onde a Igreja nos enviar.

Neste segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus mostra que somos chamados para servir na condição de discípulos e missionários na sociedade e no mundo, fazendo um processo de escuta atenta da voz de Deus, de seus projetos e dos clamores do povo, marcado pela obediência total e radical ao plano do Pai.

Na primeira leitura, Abraão torna-se uma referência de quem permanece em continua atitude de escuta e de quem aceita os planos Divinos, mesmo que pareçam contra sua vontade. Ele revela-se temente a Deus e, sem hesitar, aceita sacrificar Isaac, seu único filho. Com ele, aprendemos a responder sim, a importância da fidelidade vocacional e somos motivados a fazer a experiência da renúncia necessária para garantir a continuidade  da realização do Reino.  Abraão ensina-nos, ainda, que Deus é nossa esperança e tem um projeto de vida plena para o mundo. O projeto de uma sociedade justa e solidária.

O Evangelho relata o acontecimento da transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vitória plena e definitiva, convidando-os a segui-Lo com fidelidade e perseverança.

Pela transfiguração de Jesus, Deus garante que todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida a serviço dos irmãos, nunca experimentarão o fracasso, mesmo se experimentam as dores ,  o sofrimento e humilhação da cruz.

O seguidor de Cristo é desafiado a descer da montanha para ir anunciar a Boa Nova da Salvação, a levar a mensagem da paz e da esperança para transfigurar os rostos daqueles que estão tristes, desanimados, doentes, deprimidos ou perderam o sentido da vida. A eles precisam falar de Jesus, do seu projeto de vida e de salvação, da sua misericórdia e compaixão para com todos e do seu infinito amor, como nos revela São Paulo na segunda leitura.

Para Paulo, há uma constatação incrível, que não cessa de espantá-lo: Deus ama-nos com um amor profundo, total, radical, que nada nem ninguém conseguem apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta descoberta que Paulo nos convida a fazer. Portanto, nos momentos de crise, de desilusão, de perseguição, de desânimo de orfandade, quando parece que todo o mundo está contra nós e que não entende a nossa luta, o nosso sofrimento e não sente a nossa dor, a Palavra de Deus grita: “não tenhais medo”. “Se Deus é por nós, quem será contra nós”.

Descobrir esse amor dá-nos a coragem necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranquilidade e com o coração cheio de paz. O seguidor de Jesus é aquele homem ou mulher que não tem medo de nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar a sua vida como dom, correr riscos na luta pela paz, pela defesa da fé, pela vida e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva.

Sendo assim, o cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade, esperança, com a certeza da vitória. Neste Segundo domingo da quaresma, peçamos a Deus a graça da perseverança e de nunca deixar de acreditar na sua proteção, afirmando como o salmista: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha vida! ’”. Assim seja!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor

 



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