12 de Maio de 2014

Homilia – 4º Domingo da Páscoa – 11.05.14 (At 2,14. 36-41; Pd 2,20-25; Jo 10,1-10)

O quarto domingo da páscoa tem um sentido particular e especial, porque é considerado o domingo do Bom Pastor e é o dia mundial de oração pelas vocações.

No mundo inteiro, hoje, os católicos rezam para que o Senhor continue chamando operários e operárias para sua messe e pela perseverança dos que já responderam. A cada ano, o Santo Padre escreve uma mensagem que serve de motivação, de reflexão sobre o tema das vocações e de estímulo para que possamos continuar rezando e trabalhando pela pastoral vocacional.

Este ano, o Papa Francisco nos convida a ouvir e seguir Jesus, a deixar-nos transformar interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6, 63) e afirma que “a vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno”.

Além desta mensagem, ouvimos a proclamação do Evangelho que apresenta Jesus mostrando as verdadeiras características do pastor das ovelhas e alerta as ovelhas quanto às atitudes ameaçadoras dos ladrões e dos assaltantes. Isto é, daqueles que não entram pela porta do redil, ou seja, daqueles que não são verdadeiros pastores. Destaca ainda que o pastor das ovelhas entra pela porta com livre acesso e “as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora...” para levá-las para o campo, oferecer-lhe alimento, possibilitar experimentar a quentura do sol e a gozar da liberdade de poder caminhar livremente.

Jesus apresenta-se como a porta, declarando-se como ponto de referência, exemplo de acolhimento, ponte e como aquele que abre cancelas, veredas e caminhos. Ele promete vida e vida em abundância. Tais declarações levam-nos a constatar como Jesus torna-se um modelo de facilitador, de proteção dos que merecem maiores cuidados, de verdadeiro pastor.

Jesus convida-nos a adquirirmos a habilidade de atrair, de influenciar pessoas, inspirando confiança por meio da compaixão, do exemplo ou por força do caráter. Ele afirma que o verdadeiro pastor “chama as ovelhas pelo nome e depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (v. 4).

Podemos considerar esta conclusão como provocativa que suscita muitas interrogações para os pais que perderam o respeito e a confiança dos filhos; para os chefes, patrões, líderes que não conseguem motivar seus dirigidos, empregados ou liderados; para os governantes que perderam a confiabilidade, a credibilidade do povo; para os pastores ou líderes religiosos que não atraem mais pelo testemunho de vida; para os professores que não mais exercem sobre os alunos influência para ensinar e educar.

Aprendemos assim, que a influência e a liderança são construídas com proximidade, intimidade, bondade, humildade, respeito, honestidade, compromisso, paciência, confiança, amor, disposição para servir, gentileza, doação, dedicação, sacrifico e entrega da própria vida, a afim de que outros possam renascer: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (v10b).

Na primeira leitura, o povo atraído pela pregação de Pedro e desejando experimentar o que os cristãos viviam, perguntaram sobre o que deviam fazer.  Pedro responde para eles e para nós que precisamos rever nosso modo de liderar: reconhecer que Jesus é o Senhor, fazer uma experiência de conversão, receber o batismo e por consequência o Espírito Santo. Isto é, viver de forma comprometida e coerente nossos compromissos profissional, vocacional e de fé.

Completando o raciocínio, na segunda leitura, o mesmo Pedro recorda a importância da perseverança e fidelidade nos propósitos: “... se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isso vos torna agradáveis diante de Deus” (v20) e lembra a possibilidade de recomeçar sempre: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas” (v25).

Neste domingo, nós ficamos todos convencidos da necessidade de revermos nossas atitudes e posturas quando exercemos a liderança e, enquanto ovelhas, esperamos sempre contar com a proteção do Pastor, Jesus Cristo, o Senhor do Bonfim, que nos acolhe de braços abertos e que cuida de cada um de nós com misericórdia.

Mas, hoje é também dia das mães e as características do Bom Pastor podem ser atribuídas às atitudes, às posturas e às ações de uma mulher que exerce a maternidade numa perspectiva de doação, de oblação, de entrega total da vida a uma causa nobre e de caráter sublime: gerar vidas, criar, educar, formar para o bem e para edificação da felicidade de uma pessoa. Assim, existe uma invocação a Nossa Senhora, chamando-a de Divina Pastoral.

Penso que a referida devoção deseja expressar, ressaltar a missão de uma mãe de cuidar dos filhos que gerou, como um modo de ser essencial, pois “ser mãe é mais que uma função; é um modo-de-ser que engloba todas as dimensões da mulher-mãe, seu corpo, sua psique e seu espírito. Com seu cuidado e carinho a mãe continua a gerar os filhos e as filhas durante toda vida. Mesmo que tenha morrido, sempre permanecerão em seu coração materno. Nos momento de perigo são invocadas com o referencia de confiança e salvação. É através das mães que cada um aprende a ser mãe de si mesmo, na medida a que aprende a aceitar-se, a perdoar as próprias fraquezas e a alimentar o sonho de grande útero acolhedor de todos. Representam também o modo de ser mãe, as educadoras e os educadores que se devotam ao crescimento humano, mental e espiritual dos educandos, as enfermeiras que cuidam dos seus doentes e tantas outras pessoas que anonimamente se desvelam no cuidado de alguém” (Leonardo Boff, Saber Cuidar, pág. 167).

Quero prestar neste dia uma homenagem a duas mulheres mães que foram mortas brutalmente, devido à crueldade e a insensatez do ser humano, que traindo o plano de Deus mata ao invés de preservar a vida. Fabiane Maria de Jesus, uma mulher de 33 anos que foi linchada, apedrejada inocentemente em Guarujá – São Paulo, por ser confundida com uma pessoa que sequestrava e assassinava crianças para fazer ritual de magia negra e a prof.ª Andrea Astolpho, que foi assassinada, aqui, em Salvador, na vista de seu filho de quatro anos por adolescentes que queriam roubar o seu carro.

A estas mártires mães, a nossa homenagem neste dia e a tantas outras que mesmo estando vivas, encontram-se mortas, pois perderam o sentido da vida, devido às mortes trágicas de seus filhos, que têm suas vidas ceifadas pela violência devido à guerra do trafico para exploração sexual, extração de órgãos e principalmente de drogas.

Por estas mártires vivas ou mortas, a nossa prece pedindo paz, a graça da consolação em Cristo Jesus Bom Pastor e a certeza do amor de Maria Santíssima, a Divina Pastora. Amém! 



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