QUINTO DOMINGO DA QUARESMA – 29/03/2020
(Ez 37,12-14; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45)
Hoje, estamos celebrando o quinto e último Domingo da Quaresma e, no próximo, iniciaremos a Semana Santa, período que nos possibilitará, mais uma vez, a graça de celebrar e vivenciar o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus de modo bem diferente e que, certamente, nunca imaginaríamos que aconteceria assim. Estaremos com as nossas igrejas fechadas, todos em isolamento social, as ruas e estradas desertas, muitos hospitais em estado de prontidão e outros hospitais de campanha em construções, o comércio praticamente fechado, os meios de comunicação dando destaque às notícias sobre a pandemia do coronavírus, muita apreensão, muito medo, temor...
Diante desta realidade, a liturgia vai pedagogicamente nos preparando para celebrar os mistérios da nossa fé; para celebrar e experimentar a vitória da vida sobre a morte, da luz que vencerá as trevas, da certeza sobre o medo, da alegria que vencerá a tristeza. Vamos celebrar e experimentar a páscoa vislumbrando um horizonte novo.
As leituras, que ouvimos, oferecem-nos palavras confortadoras e carregadas de esperança. As palavras do profeta Ezequiel ditas para aquele povo que estava desanimado, decaído e visto como um monte de ossos ressequidos são oportunas para nos animar neste contexto mundial de pandemia. O autor sagrado lembra que Deus renova todos nós no seu espírito, concede vida nova e a vitória merecida e recorda que Ele é o Senhor. Isto é, aquele no qual “se encontra toda graça e copiosa redenção”, como afirma o salmista (Sl 129,4).
O acontecimento da morte e da ressurreição de Lázaro, descrito no evangelho, que ouvimos, pode ser refletido a partir de duas vertentes:
Na primeira, Jesus que revela amizade, atenção e preocupação com uma família, que chora a morte de um dos seus membros, Lázaro. Aquela família é apenas uma referência do amor de Jesus por todas as nossas famílias. Portanto, quando enfrentamos qualquer problema em nossos lares, Ele vem ao nosso encontro, Ele acompanha de perto, Ele vem em nosso auxílio. Nestes últimos dias, quantos desafios, quantas dificuldades estamos enfrentando em nossas famílias, devido à necessidade do cumprimento do isolamento social? Problemas de superlotação dentro de casebres em nossas periferias, de solidão e vazio em casas espaçosas, de famílias que estão desabrigadas, imaginemos a angústia das famílias que algum dos seus membros tenha sido infectado pelo coronavírus.
O milagre da ressurreição de Lázaro é uma indicação da vida nova que não conhece mais a morte e que nasce no coração do homem por meio da fé. Portanto, depois dessa tempestade, somos desafiados a levar a vida de modo diferente, a uma renovação interior, a uma revolução de novas perspectivas, concepções e atitudes que poderão reconfigurar nosso modo de ser, de proceder e de viver.
As palavras de Jesus para Marta hoje são as mesmas dirigidas aos que perderam seus entes queridos e estão tristes, sofridos, vítimas ou não do covid-19, saudosos: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (vv 25-26). Portanto, ressuscitarão com Ele.
Na segunda, a narração da morte e ressurreição de Lázaro favorece mais uma oportunidade para a auto revelação de Jesus e o testemunho da profissão de fé feita por Marta após ter sido interrogada sobre se acreditava ou não que Ele era a ressurreição e a vida, ao responder: “Sim Senhor eu creio firmemente que tu és o Messias, o filho de Deus, que veio ao mundo para nos salvar”.
Penso que, nestes últimos dias, nós estamos rezando mais, nós estamos buscando e recorrendo a Jesus, com mais frequência. Interessante! Nestes três últimos domingos, Ele indo sempre ao encontro de uma pessoa, afirma proximidade, sensibilidade e amizade.
No domingo retrasado (08.03), disse a Samaritana: “Sou eu, que estou falando contigo. ” No domingo passado (15.03), dialogando com o cego que foi curado, Jesus perguntou: “Acreditas no filho do homem?” Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele”? Jesus disse: “Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo.” Exclamou ele: “Eu creio Senhor!” Hoje (29.03), disse a Marta após as suas ponderações sobre os dias passados da morte de Lázaro: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”
Meus irmãos e minhas irmãs, nós não estamos sozinhos. Jesus acompanha tudo o que está acontecendo e dizendo aquilo que precisamos escutar através da sua Palavra, através do nosso silêncio orante, através da voz dos nossos pastores, através da Igreja.
Como nos garante São Paulo na segunda leitura, a nossa caminhada para celebrar a páscoa é um processo normal de amadurecimento e crescimento na fé, de convicção, de certeza da ação renovadora do Espírito em nós; de renovação interior e disposição para recomeçar uma vida nova. Neste ano, de modo particular, devemos fazer o referido itinerário, aproveitando do isolamento social que estamos vivenciando.
Coragem, perseverança, serenidade e calma é importante, neste período, que será breve. Vamos continuar acreditando que nossas casas é o lugar mais seguro para estarmos protegidos deste maldito vírus, cuja força e resistência serão contidas pelas descobertas da ciência e pelo poder de Deus.
Continuemos dobrando nossos joelhos para suplicar a Deus, nosso Pai, “Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz por sua mão (Sl 94,7).”
Pe. Edson Menezes da Silva
Reitor
Basílica Santuário do Senhor do Bonfim – Salvador – BA
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