05 de Abril de 2020

Homilia - Domingo de Ramos


Homilia - Domingo de Ramos

(Mt 21.1-11; Is 50,4-7; Fl 2,6-11; Mt 27,11-54)

A 1ª leitura fala de um profeta anônimo, que anuncia em nome de Deus, uma mensagem de conforto às pessoas, que estão tristes e abatidas, que procede como um discípulo, que enfrenta com firmeza as resistências e declara que Deus é seu auxiliador. Portanto, não se deixará abater o ânimo, nem experimenta o sabor da humilhação.

Belo exemplo para todos nós, neste período de pandemia do coronavírus e de isolamento social, a fim de que sejamos, na atualidade, motivados a não esmorecer, a não desanimar e a, com nosso exemplo, ajudar os outros a confiar em Deus, a elevar a autoestima, a não perder a alegria, cultivando bom humor. Como o referido profeta, cada um de nós deve tomar como compromisso de fé a certeza de que o Senhor é seu auxiliador, por isso não se deixará abater pela tristeza, pela ansiedade, pelo desânimo, pela depressão.

Da 2ª leitura, vem o apelo para que nesta realidade que estamos vivendo possamos reconhecer que ao nome de Jesus, todo joelho deve se dobrar e toda língua deve proclamar que “Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai!”

A narração da Paixão de Cristo descreve sobre o sofrimento e a morte de um justo que passou pelos caminhos da Palestina "fazendo o bem" e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida plena, de liberdade, de paz e de amor para todos; que falou e apresentou um Deus misericordioso e que não excluia ninguém, nem mesmo os pecadores; que ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; que ensinou que os pobres e os excluídos eram os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o "Reino"; e alertou aos poderosos que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, o individualismo, a indiferença, a insensibilidade, a ganância só podiam conduzir à morte.

Esse Jesus, num domingo anterior a sua morte de cruz, entrou na sua cidade, Jerusalém, sendo aclamado como rei. Até então, no domingo de ramos, nós repetimos o mesmo gesto realizando uma procissão recordando, cantando: “Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor”.

Neste ano, será diferente. Estando impedidos de participar de celebrações públicas, atendendo às orientações para contenção da pandemia do coronavírus, por isso vamos, em nossa casa, na condição de igrejas domésticas, celebrar o Tríduo Pascal e hoje acolher Jesus, o Filho de Davi no nosso coração, repetindo como o oficial do exército romano: “Senhor! Não mereço que entres em minha casa” e completar dizendo: mas, podes entrar, permanecer para sempre e ocupar o seu lugar de Rei e Senhor.

Sexta-feira (03/04), a imagem do Senhor do Bonfim, tendo desfilado em carro aberto percorrendo ruas, avenidas e bairros da nossa Cidade do Salvador, foi acolhido e aclamado como nosso auxiliador, nosso protetor, nosso Senhor e Salvador, como padroeiro dos corações dos baianos.

Ouvimos expressões semelhantes, gritos, saudações como as que foram ditas no passado por muitas pessoas que O reconheciam como o Messias, quando Ele percorria as ruas da Samaria, de Cafarnaum, de Jericó, de Tiberíades, de Jerusalém e de outras cidades da Judeia e da Galileia. Foi um acontecimento que marcará a história da nossa cidade, da nossa vida de fé, da nossa devoção.

Com seus braços abertos abraçava a cidade inteira, abraçava a cada família recolhida, abraçava a cada pessoa no lugar onde estava e conforme a sua condição e situação particular, oferecendo-lhe alento, consolo, esperança, cura, misericórdia, concórdia, paz.

Senhor do Bonfim percorreu as ruas da sua cidade, foi ao encontro do seu povo, transmitindo coragem, força, estímulo para continuar firme neste exílio que será breve. Foi recepcionado com lenços brancos, fogos e muitos vivas!

Hoje, com nossos ramos verdes nas portas e dentro de nossas casas, queremos ressaltar que Ele é a nossa esperança, a nossa vitória, a nossa libertação, nosso Senhor e Deus.

Vivamos com intensidade a riqueza espiritual desta Semana Santa, particularmente do Tríduo Pascal (quinta, sexta e sábado), a fim de que possamos celebrar, vivenciar e deixar acontecer na nossa vida pessoal, familiar, eclesial e social uma verdadeira páscoa. Talvez seja esta a oportunidade para cada um de nós fazer a páscoa que nunca foi feita. Isto é a experiência de renovação, de transformação, de mudanças significativas, de conversão, de vida nova.

Vamos aproveitar desta oportunidade e deste tempo favorável que o Senhor nos oferece. Amém!

Pe. Edson Menezes da Silva - Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

“Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expetativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: «Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta».

Queridos irmãos e irmãs, que podemos fazer vendo Deus que nos serviu até experimentar a traição e o abandono? Podemos não trair aquilo para que fomos criados, nem abandonar o que conta. Estamos no mundo, para amar a Ele e aos outros: o resto passa, isto permanece. O drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor. Então, nestes dias da Semana Santa, em casa, permaneçamos diante do Crucificado, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus, que nos serve até dar a vida, peçamos a graça de viver para servir. Procuremos contatar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer” (Homilia do Papa Francisco – Hoje, Domingo de Ramos – 05/04/2020).



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