12 de Abril de 2020

Homilia - Domingo da Ressurreição do Senhor


Homilia - Domingo da Ressurreição do Senhor

(At 10,34.37-43; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9)

Acabamos de vivenciar uma Semana Santa diferente e que nunca imaginamos que pudesse acontecer assim; com as igrejas fechadas, as celebrações do Tríduo Pascal  realizadas sem a participação dos fiéis e acompanhadas através dos meios de comunicação, fazendo o exercício do distanciamento e isolamento social  ficando distantes dos parentes e amigos, recolhidos dentro de nossas casas, de nossas igrejas domésticas, tendo o privilégio de celebrar a Páscoa como  os primeiros cristãos  no início do cristianismo.

Espero que tenhamos aproveitado dos benefícios espirituais, das lições e dos ensinamentos de toda liturgia, da convivência e da oportunidade de fazer uma verdadeira preparação para experimentar na vida pessoal e familiar uma real mudança de vida e assim, pelo exemplo individual, fazer a Páscoa acontecer na comunidade-igreja e na sociedade.

Interessante! Até então, os rituais aconteciam na igreja e cada um voltava para casa com o compromisso de fazer a Páscoa acontecer nas dimensões familiar e social. Desta vez, somos desafiados a começar em casa e sair para testemunhar.

Bem intuiu e profetizou o Papa Francisco, alertando-nos para a necessidade de cultivarmos uma espiritualidade de Igreja em Saída e o primeiro passo para que tornemos realidade o apelo do Papa é fazermos a experiência de sairmos de nós mesmos.

Vejam o que ele afirmou: “Embora na pluralidade das estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo, uma saída de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus”.

O Frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, concluiu a sua pregação na Sexta-feira Santa, fazendo o seguinte apelo que eu retomo e apresento:  “Nós também, depois desses dias que esperamos que sejam curtos, ressuscitaremos e sairemos dos túmulos de nossas casas. Não para voltar à vida anterior como Lázaro, mas para uma nova vida, como Jesus. Uma vida mais fraterna, mais humana. Mais cristã!”

E acrescentou: “A pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência. Temos a ocasião – escreveu um conhecido Rabino judeu – de celebrar este ano um especial êxodo pascal, o “do exílio da consciência”. Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, que o poderio militar e a tecnologia não bastam para nos salvar”. “Não dura muito o homem rico e poderoso: – diz um salmo da Bíblia – é semelhante ao gado gordo que se abate” (Sl 49,21). E é verdade!

Depois do que estamos tomando conhecimento, vendo, enfrentando e experimentando nesta realidade de pandemia, não podemos continuar como antes, não podemos levar a vida do jeito que levávamos, não podemos continuar agindo conforme a lógica da ganância, da prepotência, do sentimento de superioridade, da discriminação, da exclusão, do individualismo, do puritanismo, do moralismo falso, da hipocrisia e de tantos outros procedimentos e posturas que traduzem incompreensão, insensibilidade e até pouca inteligência do ser humano. Nós, cristãos católicos, não podemos continuar desunidos, fomentando e fortalecendo o separatismo ideológico que gera discórdia, divisão, segmentação, separação e uma guerra fria interna na igreja. O que vinha acontecendo, nos últimos meses, entre grupos católicos, era vergonhoso! Quantas críticas e ofensas ao Papa, quantas expressões de autossuficiência e de condenação, quantos que pensam ser os donos da verdade, defensores da verdadeira doutrina e da verdadeira moral.

E agora? Do que tomamos consciência? O que aprendemos? O que é a verdade? Quem está certo?

Vamos deixar para traz o que passou, deixar, dentro dos túmulos, que construímos, os farrapos do que não presta, do que destrói a vida, do que quebra a unidade, a comunhão, a catolicidade.

É Pascoa! É vida nova! É um novo tempo que somos desafiados a fazer acontecer.

Na primeira leitura, São Pedro afirma: “Todo aquele que crer em Jesus recebe o perdão dos pecados”. Arrependidos, busquemos o perdão de Deus, nosso Pai, pois eterna é a sua misericórdia (Sl 117,1).

São Paulo, na segunda leitura, pede que ressuscitemos com Cristo. Isto é, que passemos a viver uma vida nova. Pede que nos esforcemos para buscar as coisas do alto, a aspirar as coisas celestes e não as terrestres.

O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, Pedro, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus, João, e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta (a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira).

Com qual dos dois me identifico? Queiramos como João que acreditou na ressurreição sem pestanejar, acreditar na possibilidade da nossa conversão, da existência de um mundo melhor, da realidade de uma igreja una, santa, católica e apostólica, fiel e obediente ao único pastor. Despois deste exílio, que estamos vivendo, não podemos continuar como antes.

Na Vigília Pascal, disse o Papa Francisco: “Precisamos de retomar o caminho, lembrando-nos de que nascemos e renascemos a partir duma chamada gratuita de amor. Este é o ponto donde recomeçar sempre, sobretudo nas crises, nos tempos de provação”.

Vamos permitir que a Páscoa aconteça na nossa vida. Só assim a Páscoa se tornará realidade na família, na igreja e no mundo. Assim seja!



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