26 de Abril de 2020

Homilia – 3º Domingo da Páscoa


Homilia – 3º Domingo da Páscoa

(At 2,14.22-23; Pd 1,17-21; Lc 24,13-35)

Hoje, 26 de abril, celebramos o 3º Domingo da Páscoa. Motivados pelos textos bíblicos, que são proclamados neste tempo litúrgico, nós somos motivados a compreender que a ressurreição de Jesus Cristo é o centro da nossa fé, o acontecimento que marca um novo tempo na história da salvação e que, particularmente, transformou a vida dos seus discípulos, dando um novo sentido, pois eles estavam desanimados e dispersos devido ao acontecimento da sua morte.

Os relatos das aparições de Jesus Ressuscitado, o testemunho dos Apóstolos e as experiências das primeiras comunidades cristãs apresentados nas leituras, que são proclamadas, vão nos ajudando a fortalecer o vínculo de pertença à igreja, a nossa participação, a nossa colaboração e a exercer coresponsavelmente ministérios nas paróquias, santuários e capelas; vão nos conscientizando quanto à renovação do compromisso missionário que deve ser renovado a cada ano e, neste tempo de pandemia e de distanciamento social, os relatos bíblicos vão nos ajudando a compreender, a discernir, a administrar e enfrentar os desafios, as dificuldades e as novidades que estamos enfrentando.

A 1ª leitura dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos Pedro, depois de Pentecostes, em pleno exercício da sua missão, testemunhando a vitória de Cristo sobre a morte, garantindo que não devemos vacilar, pois o Senhor está ao nosso lado concedendo alegria ao nosso coração, concedendo esperança e derramando sobre nós o seu Espírito para nos fortalecer.

Na 2ª leitura, o mesmo Pedro, completando o raciocínio, garante que a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus e n’Ele devemos depositar a nossa confiança.

O Evangelho descreve uma das mais bonitas e significativas aparições de Jesus depois de ressuscitado, motivando-nos a meditar cada detalhe do texto para saborear integralmente seus ensinamentos, degustando o sentido de cada palavra ou frase dita por Ele com o objetivo de despertar em cada personagem da saga e, consequentemente, despertar em cada leitor ou ouvinte da atualidade a certeza de que Ele vive, está no meio de nós, caminha ao nosso lado e se manifesta no anúncio da Palavra e na fração do pão eucarístico.

Dois dos seus discípulos voltavam para o povoado onde residiam, chamado Emaús. Eles estavam tristes, desanimados, decepcionados, desiludidos e certos de que a morte de Jesus na cruz foi uma frustrante tragédia, uma grande decepção, o fim de uma história marcada pela enganação e pela mentira. 

O texto começa utilizando-se de uma metáfora, informando que a distância entre Emaús e Jerusalém era uns onze quilômetros para evidenciar o longo caminho de meditação que cada um de nós precisa fazer através das Escrituras, para reconhecer que Jesus está vivo, está no meio de nós e que é necessário mudar de vida.

Enquanto eles, desiludidos, conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido e discutiam pelo caminho, Jesus se aproximou, começou a caminhar com eles, escutou suas lamúrias e depois iniciou um diálogo fazendo algumas perguntas. Porém, não foi reconhecido, pois eles estavam cegos espiritualmente, a ponto de não reconhecerem o ressuscitado, com quem antes já haviam convivido e do qual eram seguidores e discípulos.

Inicialmente, um dos discípulos, chamado Cléofas, em tom irônico, em vez de responder à pergunta de Jesus, fez-lhe outra, pois se sentia conhecedor dos acontecimentos. Jesus não levou em conta a sua ironia, mas provocou questionamentos, perguntando sobre o acontecido. Vale ressaltar que mais uma vez Jesus se colocou numa atitude de escuta.

Os discípulos, como diríamos, abrem o verbo e narram os fatos ocorridos revelando que estão bem informados, pois descrevem com detalhe tudo o que aconteceu desde a sexta-feira da sua morte até aquele terceiro dia.

Tendo ouvido tudo com paciência e atenção, Jesus começa o processo de catequese afirmando: “Como sois insensatos e lentos para crer em tudo o que disseram os profetas” e fazendo outras perguntas para explicar aos dois discípulos sobre tudo o que falava a escritura a seu respeito começando por Moisés e por todos os profetas, o que fez arder o coração dos que o escutavam.

É interessante notar que somente depois que os discípulos externaram toda experiência de frustração, toda inquietude interior e suas murmurações foi que Jesus se pôs a explicar, a evangelizá-los.

Assim, aprendemos com o Mestre que, antes de orientar, de catequizar, de evangelizar alguém, é necessário escutá-lo, conhecer a sua história de vida, a sua cultura, as suas experiências espirituais pessoais.

Também entendemos que o Evangelho é profundamente humano e, muitas vezes, o que estamos anunciando a alguém, considerando como uma grande novidade pode não ser, pois aquela pessoa já pode ter conhecimento sobre o fato ou já ter feito uma experiência de fé até num grau maior do que o nosso.

Quando foi aproximando-se da aldeia, Jesus provocou nos discípulos uma reação de acolhimento e solidariedade, "fazendo de conta que ia mais adiante". Os discípulos reagiram convidando-o, com insistência, para que permanecesse com eles.

Vale ressaltar que a atitude de Jesus possibilitou um encontro mais íntimo e fraterno com os discípulos ao redor da mesa em uma refeição e, ao partir o pão, deixou-se conhecer. Assim, compreendemos que é no partir o pão, isto é, na celebração da Eucaristia, como o ponto mais alto da Liturgia, que podemos reconhecer Jesus Cristo plenamente como o nosso Salvador, ao mesmo tempo em que somos despertados para a nossa vida de comunhão e de partilha.

Depois da referida refeição, eles perceberam que o coração ardia quando escutavam as explicações de Jesus, embora sem reconhecê-lo plenamente.

A narração é concluída afirmando que depois de terem reconhecido a Jesus, retornaram para Jerusalém e contaram aos outros discípulos o que havia acontecido no caminho e como reconheceram Jesus, ao partir o pão.

Concluindo, podemos tirar algumas lições destas reflexões para este tempo de distanciamento social:

1º) Uma vez que estamos convivendo juntos com mais intensidade, intimidade, proximidade e confinidade devemos nos esforçar para fazer o exercício de escutar, de ouvir o outro;

2º) Vamos acreditar e aproveitar do carinho de Deus, pois, nas horas difíceis, sempre Ele se coloca ao lado de quem sofre, de quem experimenta a dor, a angústia, a tristeza e da desilusão;

3º) Devemos aproveitar para fazer uma leitura diária da Sagrada Escritura, preferencialmente das leituras da liturgia do dia. Assim, poderemos encontrar diariamente indicações bem concretas para superação dos desafios do momento. Eu tenho vivenciando esta experiência, tenho tido resultados positivos, por isso proponho que vocês façam o mesmo;  

4º) As pessoas que costumam comungar devem valorizar a experiência da comunhão espiritual, ao participar da Missa, ouvindo pela rádio ou assistindo pela televisão ou pelas redes sociais. Assim afirmou Santa Terezinha: “Quando não comungais e não participais na Missa, comungai espiritualmente, porque é muito vantajoso. […] Deste modo, imprime-se em vós muito do amor de nosso Senhor”;

5º) Assim como os discípulos de Emaús retornaram para Jerusalém e recomeçaram uma nova vida, vamos aproveitar para descobrir o que deve mudar na nossa vida;

6º) Não devemos desanimar, nem vacilar, pois o Senhor Ressuscitado está ao nosso lado concedendo alegria ao nosso coração, ânimo, esperança e derramando sobre nós o seu Espírito para nos fortalecer neste momento de tantas provações. Amém!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim – Salvador – Bahia

 



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