04 de Maio de 2020

Homilia – 4º Domingo da Páscoa


Homilia – 4º Domingo da Páscoa

(At 2,14ª.36-41; Sl 23; 1Pr 2,20b-25; Jo 10,1-10)

O 4º Domingo da Páscoa tem uma característica particular, é considerado o "Domingo do Bom Pastor", pois, neste domingo, todos os anos, a liturgia apresenta um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como "Bom Pastor", destacando algumas das suas atitudes e características, neste particular.

A narração do versículo 60 a 69, que acabamos de ouvir, evidencia que Cristo, “o Pastor", “porta das ovelhas”, tem a missão de libertar o rebanho de Deus do domínio da escravidão, de conduzi-lo por caminhos seguros garantindo atenção, proteção, segurança e vida plena, ao contrário dos falsos pastores, cujo objetivo é aproveitar-se do rebanho em benefício próprio, explorar, oprimir e usar de outros mecanismos geradores de dependência.

Na primeira parábola (cf. Jo 10,1-6), Jesus evidencia que “quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas”, para ressaltar que sua missão se contrapõe a dos demais líderes que se servem das suas prerrogativas para explorar o povo e usam do poder para mantê-lo sob a sua escravidão e submissão. Eles aproximam-se das pessoas de forma autoritária, abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão ("não entram pela porta"): foram eles que a usurparam. O seu objetivo não é o bem das "ovelhas", mas o seu próprio interesse.

Destaca ainda que, na sua missão de "pastor", em primeiro lugar, conhece as "ovelhas" chamando-as pelo nome, porque conhece cada uma e com cada uma quer ter uma relação pessoal de amor, de proximidade, de comunhão: Para Jesus, não há "massas", mas pessoas concretas, com a sua identidade própria, com a sua realidade, com a sua dignidade. Portanto, as "ovelhas" "escutam a sua voz", sabem que só a voz de Jesus as conduz, com segurança, ao encontro da vida definitiva.

Na segunda parábola (cf. Jo 10,7-9), Jesus apresenta-Se como "a porta". Aqui, Ele já não é o pastor legítimo que passa pela porta, mas "a porta". Isto é, Ele é o único meio de acesso para que as "ovelhas" possam encontrar as pastagens que dão vida, geram segurança e garantem proteção. "Passar pela porta", que é Jesus, significa aderir a Ele, segui-Lo, acolher as suas propostas. As "ovelhas", que passam pela porta, que é Jesus, isto é, que aderem a Ele, podem passar para a terra da liberdade, a terra em que não estão os líderes que exploram e roubam, para a terra onde encontrarão "pastos" (vida em plenitude).

No que diz respeito aos líderes, significa que ninguém pode ir ao encontro das "ovelhas" se não tiver um mandato de Jesus, se não tiver sido convidado por Ele; significa que ninguém pode ir ao encontro das "ovelhas" se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma atitude de Jesus que é dar vida às ovelhas e não de explorá-las.

O texto termina com uma reafirmação do contraste entre Jesus e os líderes religiosos judaicos e os demais, que exercem função de governar, chefiar ou comandar e que utilizam o "rebanho" para satisfazer os seus próprios interesses egoístas, despojam e exploram o povo; mas Jesus só procura que o seu "rebanho" encontre vida em plenitude. “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.

No cotidiano da vida e em momentos difíceis como o que estamos vivendo atualmente de uma pandemia, que atinge o mundo inteiro aterrorizando a humanidade e ceifando vidas de milhares de pessoas, os líderes espirituais, os governantes, os que assumem a  função de chefiar ou comandar devem mirar o exemplo de Jesus, Bom Pastor, devem ter sensibilidade, responsabilidade, respeito e cuidado com o povo, com os seus liderados para garantir-lhes a segurança, a dignidade, a  proteção, o atendimento médico digno, a solução imediata para suas dificuldades e demandas. Devem ficar próximos, devem, com sensibilidade e solidariedade, acompanhar os acontecimentos, oferecendo respostas e orientações esclarecedoras, orientadoras e animadoras, bons exemplos.

Na 1ª leitura, Pedro pede aos seus interlocutores e aos líderes da atualidade que se convertam e deixem os velhos esquemas de egoísmo, de prepotência, de orgulho, de autossuficiência que tantas vezes constituem o cenário privilegiado em que se desenrola a vida, para seguir o exemplo de Jesus e aprender com Ele a amar, a servir, a cuidar, a preocupar-se com o outros e a dar a vida.  

O mesmo Pedro, na segunda leitura, recorda aos destinatários da carta o exemplo de Cristo, que sofreu e morreu antes de chegar à ressurreição. É um convite à esperança: Apesar dos sofrimentos que têm de suportar, os crentes estão destinados a triunfar com Cristo; por isso, devem viver com alegria e coragem o seu compromisso batismal.

O cristão - seguidor desse Jesus, que sofreu sem culpa e que suportou os sofrimentos com amor, deve rejeitar absolutamente o recurso da violência. É nessa atitude de bondade e de mansidão que se manifesta a graça de Deus.

Seguindo o exemplo de Jesus, chegamos a algumas conclusões que consideramos como lições importantes:

1º) Sejamos bons pastores, boas pastoras que com habilidade, sensibilidade, amor, atenção, carinho, bom exemplo e dedicação cuidam dos seus e dos outros;

2º) Não vamos imitar os exemplos dos líderes e governantes descomprometidos com o bem, a miséria e as necessidades dos outros, os líderes insensíveis, descomprometidos, autoritários, arrogantes, grosseiros, mal-educados que não se preocupam e não se importam com a dor, com o sofrimento e a miséria do outro;

3º) Não vamos perder a oportunidade de fazer uma verdadeira experiência de conversão, de mudança de vida neste tempo de pandemia do coronavírus e de isolamento social para vislumbrar novos horizontes e dar um outro rumo a sua vida;

4º) Neste momento, acreditar e testemunhar a esperança, a alegria e a coragem é um compromisso que deve ser assumido por cada cristão católico.

5º) Tenhamos absoluta certeza de que: “O Senhor é o nosso pastor e nada nos faltará”.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim – Salvador – Bahia



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