11 de Maio de 2020

Homilia - 5º Domingo da Páscoa


Homilia - 5º Domingo da Páscoa

(At 6,17; 1Pd 2,4-9; Jo 14,1-12)

Neste Quinto Domingo da Páscoa e dia das mães, no contexto da realidade de pandemia do novo coronavírus e de continuidade do distanciamento social, que estamos sendo orientados a prosseguir como meio eficaz de proteção contra a Covid 19, a liturgia nos apresenta uma mensagem confortadora e motivadora de Jesus que nos diz: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (v 1). E faz um convite para que vejamos Jesus como o caminho, a verdade e a vida.

No percurso normal da vida, devido a determinadas circunstâncias ou em tempos difíceis, como o que estamos vivenciando, temos a tentação de entrar num processo de perturbação ou confusão mental, psicológica, emocional que gera ansiedade, medo, pânico, mudança de comportamento e outros transtornos que podem causar danos irreparáveis à vida de uma pessoa.

Diante desta situação, precisamos reagir sem nos deixar abater, mas, para isto, é importante identificar a origem, as causas, verificando se elas são justificáveis e tomar consciência das reais consequências para a vida. Como também, é importante tomar conhecimento de outras realidades vividas por pessoas que passam por problemas piores que os nossos e reagem de modo positivo, oferecendo um exemplo de superação.

Sei que, neste momento, enfrentando a realidade do distanciamento social, muitos ficam confusos e perdem a serenidade, a tranquilidade, a paz interior e alguns sentem a necessidade do uso de medicação ansiolítica.

Tenho recebido constantes ligações de inúmeras pessoas com o relato de que estão abatidas, tristes, desanimadas por estarem recolhidas em suas casas. A estas pessoas pergunto como elas estão, pergunto sobre a saúde e ressalto as condições de vida, de moradia, de bem estar, alertando que, se estão bem, não devem reclamar, murmurar ou estarem tristes, desanimadas, porque existem tantas outras pessoas que estão enfrentando desafios diversos como fome, desemprego, falta de moradia ou que estão numa moradia indigna, ou com uma doença pessoal ou de um membro da família e, mais ainda, existem aqueles que foram contaminados e estão hospitalizados ou em suas casas enfrentando o terrível isolamento social com os sintomas da Covid 19. Portanto, cuidado com as queixas, as somatizações de doenças, com os desequilíbrios emocionais, as alterações de humor. Ao contrário, se estamos bem, devemos agradecer a Deus, aproveitar do momento para fazer alguma coisa útil, fazer meditações, reflexões, leituras e aproveitar para rezar muito.

Tanto para os que estão bem, como para os que estão passando por pequenas ou grandes desafiadoras dificuldades, Jesus anuncia: Tenha fé em Deus e em mim também. Eu e o Pai somos um. Quem me viu, viu o Pai. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. “Quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estás”.

A 1ª leitura apresenta o exemplo dos primeiros discípulos de Jesus, que, antes de enfrentar ou de resolver um problema, rezavam com fé e pediam a iluminação do Espírito Santo. Vamos também proceder assim.  E São Pedro, na 2ª leitura, reforça o apelo à oração para que nos aproximemos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens e honrosa aos olhos de Deus, acrescentando que nós também possamos construir um edifício espiritual e sermos pedras vivas dando testemunho de coragem, de ânimo, de perseverança, de alegria e de esperança.

Neste ano, estamos celebrando o dia das mães de uma maneira diferente, distantes de nossas mães e impossibilitados de nos aproximar delas, de ficarmos juntos, de comemorar em família. Mesmo assim, fica evidente o nosso reconhecimento, a nossa expressão de carinho, consideração e eterna gratidão a nossas mães, nossas heroínas, nossas rainhas, nossos tesouros preciosos.

Alguns filhos, no dia a dia, vivem distantes de seus pais, não fazem visitas regulares, não telefonam, desprezam aqueles que lhe concederam a vida, que criaram, educaram e tudo fizeram para garantir-lhe vida digna e sucesso. O distanciamento orientado, que estamos vivenciando, poderá servir para despertar a necessidade de proximidade dos filhos para com seus pais, da proximidade com os parentes, amigos e colegas. De modo particular, para despertar a importância de uma visita, de um bate papo, da convivência fraterna, da valorização da “cultura do encontro” e do combate à “cultura da indiferença”, como nos lembra o Papa Francisco.

O distanciamento orientado, tem no momento o objetivo de proteção pessoal e do outro, de preservação da vida, da saúde e também pode despertar o sentimento de mais cuidado, de mais atenção, de mais preocupação e de redescoberta da importância da proximidade, da presença, do aconchego, da atenção para com aqueles que cultivamos um vínculo de parentesco, de amizade, de coleguismo, de fé, de espiritualidade.

Esperamos que a experiência de distanciamento orientado, que estamos tendo, sirva para cada filho descobrir que mãe é única, é uma dádiva especial, é um tesouro valioso, é uma bênção de Deus, é um dom divino, é uma graça maior de todas as graças recebidas do Pai Eterno.

Sirva para despertar a importância do contato, da presença, da retribuição, da companhia, do valor e da importância da família enquanto comunidade de amor, santuário da vida e igreja doméstica.

O Papa Francisco lembra, neste dia: “Que cada pessoa humana deve a vida a uma mãe, e quase sempre lhe deve muito da própria existência sucessiva, da formação humana e espiritual. Contudo, a mãe, embora seja muito exaltada sob o ponto de vista simbólico — muitas poesias, muitas coisas bonitas se dizem poeticamente sobre a mãe — é pouco escutada e pouco ajudada no dia a dia, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Aliás, muitas vezes, aproveita-se da disponibilidade das mães a sacrificar-se pelos filhos para ‘economizar’ nas despesas sociais”.

Para o Pontífice, uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral.

Além disso, alerta o Papa, evidenciando que as mães transmitem também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende, está inscrito o valor da fé na vida de um ser humano. “Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. ”

Assim como o santo padre, reafirmamos:  “Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que são na família, à Igreja e ao mundo. E a ti, amada Igreja, obrigado por ser mãe. E a ti, Maria, mãe de Deus, obrigado por nos fazer ver Jesus”. Obrigado a todas as mães pela paciência, pela dedicação, pelo empenho, pelo cuidado, pelo carinho e particularmente por ter concebido, deixado nascer seus filhos e com sacrifício, com amor, com desvelo criou, educou e preparou para a vida seus filhos.

A vocês, mães, a nossa eterna e reconhecida gratidão! Parabéns!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim



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