(At 8, 5-8.14-17; 1Pd 3,15-21; Jo 14,15-21)
A liturgia do 6º Domingo da Páscoa convida-nos a descobrir a presença discreta, mas eficaz, comprometida e tranquilizadora de Deus na caminhada histórica da Igreja e, consequentemente, da humanidade. A promessa de Jesus "não vos deixarei órfãos” garante que o Pai não nos abandona.
O Evangelho, que escutamos, apresenta-nos parte do "testamento" de Jesus na ceia de despedida da Quinta-feira Santa, falando aos discípulos, inquietos, assustados, cheios de dúvidas e interrogações, devido às suas reações sobre a proximidade da sua paixão e morte. Jesus promete o "Paráclito", afirmando que Ele conduzirá a comunidade cristã em direção à verdade; e levá-la a uma comunhão cada vez mais íntima com Ele e com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a "morada de Deus" no mundo, sinal da sua luz e testemunho da salvação oferecida a todos homens e mulheres da face da terra.
Nestes últimos meses, devido ao prolongamento da pandemia do novo coronavírus, de suas desastrosas consequências e incertezas quanto ao nosso futuro, podemos ser tragados pela tentação da inquietude, do medo, do desânimo, do pavor, das dúvidas.
Diante do exposto, Jesus garantiu aos discípulos e a nós que não nos deixará sós no mundo. Ele vai para o Pai; mas vai encontrar uma forma de continuar presente e de acompanhar, passo a passo, a caminhada dos seus discípulos, da Igreja e de toda humanidade.
É preciso, no entanto, que os discípulos e nós continuemos a seguir seus passos, a praticar seus ensinamentos, a manifestar a nossa adesão a sua pessoa, a amá-Lo.
A consequência desse amor é o cumprimento dos mandamentos que Jesus deixou. Nesse caso, os mandamentos deixam de ser normas externas com simples objetivo de serem cumpridas, para se tornarem a expressão clara de uma vivência e prática do ensinamento de Jesus (vers. 15).
Jesus fala no envio do "Paráclito", isto é, do Espírito Santo, como "advogado", "auxiliador", "defensor”, “consolador".
O Espírito Santo desempenhará, neste contexto de desolação, um duplo papel: em termos internos, conservará a memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando-os a interpretar esses ensinamentos à luz dos novos desafios; por outro, dará segurança aos discípulos e a seus demais seguidores, guiando-os e defendo-os quando eles tiverem de enfrentar a oposição, a hostilidade do mundo e outros desafios. Em qualquer dos casos, o Espírito conduzirá a comunidade dos que creem em marcha pela história, ao encontro da verdade, da liberdade plena, da vida definitiva.
Jesus conclui o seu discurso dizendo que identifica-se com o Pai, por ter o mesmo Espírito e que os seus discípulos identificam-se com Ele, por ação do Espírito e nos convida a acolher e observar seus mandamentos como expressão de adesão a sua pessoa e da convicção de sermos amados pelo Pai.
O parâmetro para a nossa felicidade, para o nosso bem pessoal, para o bem comum e universal é o amor. Portanto, a experiência de amar e servir nos distinguirá e nos credenciará a oferecer um testemunho que poderá fascinar e suscitar no outro o desejo de querer experimentar o mesmo. Vamos tomar consciência de que “Deus nos fez somente para amar”, como canta Amelinha de autoria de Luiz Ramalho. Vamos acreditar na força, no poder, na eficácia do amor.
A primeira leitura mostra como uma situação má, isto é, de perseguição como a que os discípulos enfrentaram, nasce a possibilidade de ânimo para levar a Boa Nova do Evangelho a outras comunidades. O que nos leva a entender que, às vezes, Deus tem que usar métodos drásticos para nos obrigar a sair do nosso comodismo e levar-nos ao compromisso, a despertar e tomar consciência dos erros que estamos cometendo para dar-nos conta do que deve ser mudado. Muitas vezes, os aparentes dramas da nossa vida fazem parte dos projetos de Deus. É necessário aprender a olhar para os acontecimentos da atualidade com os olhos da fé e aprender a confiar nesse Deus que, do mal, tira o bem e que das cinzas, faz brotar a vida. Assim poderemos resgatar o sentido da nossa existência e a alegria de viver.
A segunda leitura exorta-nos a confrontar o nosso testemunho com a hostilidade do mundo e seus desafios, convidando-nos a cultivar a confiança, o testemunho sereno da fé, a dar razão a nossa esperança, a praticar o bem, a evitar a prática do mal, a amar a todos e até mesmo a nossos perseguidores e inimigos e a reconhecer que Cristo, que fez da sua vida um dom de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos olhos.
Algumas conclusões:
Pe. Edson Menezes da Silva
Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim
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