26 de Maio de 2020

Homilia – Solenidade da Ascensão do Senhor


Homilia – Solenidade da Ascensão do Senhor

(At 1.1-11; Ef 1,17-23; Mt 28,16-20)

Celebramos, neste domingo, a Solenidade da Ascensão do Senhor, o quinquagésimo quinto dia Mundial das Comunicações Sociais e o início da semana de oração pela unidade dos cristãos.

Celebrar a Ascenção do Senhor é recordar o fim do ministério de Jesus na terra, a sua passagem desse mundo ao Pai. Portanto, a conclusão de uma etapa da história da sua vida, deixando o legado do seu testemunho como referência para os seus seguidores, que devem continuar a sua ação no mundo.

Para o dia mundial das comunicações, o Papa Francisco, a cada ano, escreve uma mensagem, evidenciando um tema para nossa reflexão com relação à importância dos recursos, meios, modos e instrumentos usados pela pessoa humana para facilitar a sua comunicação, para favorecer o intercâmbio das notícias, para motivar o uso benéfico das mídias.

Nós, católicos, na semana que antecede a Solenidade de Pentecostes, costumamos, todos os anos, rezar pela união, pelo entendimento e comunhão entre as igrejas e denominações cristãs. Neste ano, motivados pelo tema “gentileza gera gentileza” devemos compreender que a hospitalidade é um meio eficaz, que favorece a unidade entre os cristãos.

Tendo como referência as três motivações, vamos desenvolver a nossa reflexão tomando como parâmetros a Palavra de Deus e a mensagem do santo padre para este dia.

No início da 1ª leitura dos Atos dos Apóstolos, segundo livro do Novo Testamento escrito por Lucas, ele começa fazendo referência a um personagem chamado Teófilo, cujo nome significa “querido de Deus” ou “amigo de Deus”, destinatário das suas duas obras, evidenciando que no seu Evangelho já apresentou “tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, até o dia que foi elevado para o céu, depois de ter dado instruções pelo Espírito Santo, aos seus apóstolos que tinha escolhido. ” (v. 1-2). Depois, cita que Jesus ressuscitado apareceu aos discípulos durante 40 dias e que foi à vista deles elevado ao céu, apresenta o apelo do anjo para que os discípulos não fiquem parados, mas prossigam testemunhando aquilo que experimentaram na convivência com o Mestre.

A passagem do Evangelho escrita por Mateus, descreve sobre o encontro final entre Jesus Ressuscitado e os seus discípulos, ocorrido na Galileia, onde Ele começou a anunciar o Evangelho do "Reino" e chamou alguns pescadores que se tornaram seus apóstolos (cf. Mt 4,12-22).

A Galileia era uma região próspera e bem povoada, de solo fértil e bem cultivado. A sua situação geográfica fazia desta região o ponto de encontro de muitos povos; por isso, um número significativo de pagãos fazia parte da sua população, de modo que os judeus de Jerusalém desprezavam os judeus da Galileia e consideravam que da Galileia "não podia sair nada de bom".

Neste ambiente de necessária ação evangelizadora, acontece o envio dos discípulos em missão, destacando que devia atingir "todas as nações".

Tanto a 1ª leitura como o Evangelho falam sobre realidades e histórias de pessoas, narram fatos e acontecimentos reais da vida, da missão e das ações de Jesus.

O Papa Francisco, na sua mensagem para o dia mundial das comunicações deste ano, escolheu como tema a valorização da narração, destacando a importância de se valorizar a verdade das boas histórias. Das “histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos [...]” destacando que [...] “as narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem ajudar-nos a compreender e dizer quem somos [...] e que “Mergulhando dentro das histórias, podemos voltar a encontrar razões heroicas para enfrentar os desafios da vida” [...].

Hoje, celebrando a Ascenção do Senhor, no contexto histórico de uma desafiadora pandemia do novo coronavírus, enfrentando os desafios do distanciamento social e os que já foram infectados os tormentos do isolamento social, nesta semana de oração pela unidade dos cristãos cujo tema é “gentileza gera gentileza”, devemos compreender que a hospitalidade é uma virtude muito necessária em nossa busca da unidade cristã e também no seio das famílias, na sociedade e no mundo, é uma prática que nos leva a uma maior generosidade com todas as pessoas e, de modo particular, com aqueles que estamos convivendo mais de perto. Nossa própria unidade poderá ser ampliada quando, além de mostrarmos hospitalidade de uns para com os outros, conseguirmos comungar nossas alegrias e esperanças com aqueles que não partilham nossa língua, nossa cultura ou nossa fé. 

Queremos nos identificar com Teófilo, para sermos queridos e amigos de Deus, destinatários e praticantes da mensagem do Evangelho; queremos tomar consciência de que somos discípulos e discípulas de Jesus, sendo enviados a anunciar a Boa Nova da Salvação a todos, de que continuamos prolongando a história da vida de Cristo e sua missão. Motivados pelas palavras do Papa Francisco, queremos redescobrir o valor da nossa história de vida pessoal, aproveitar deste tempo para fazer memória dos bons acontecimentos da nossa vida, lembrando de pessoas, de fatos ocorridos, de bons momentos vividos para encontrar ânimo e continuar firmes na caminhada.

Este tempo de parada obrigatória das atividades cotidianas deve ser uma oportunidade para avaliar a nossa história de vida passada e iniciar com novos propósitos um novo tempo, uma nova história. Para tanto, pedimos que Deus nos dê, como evidencia São Paulo na segunda leitura: “um espírito de sabedoria” para olhar para trás e identificar o que de bom aconteceu, a verdade de cada história, principalmente da história da salvação. Abra o nosso coração à verdadeira luz para que possamos descobrir e encontrar a esperança, que emana da ressurreição de Cristo e a riqueza da história de cada pessoa, de cada família, de cada época, de cada lugar, de cada santo, da igreja e da história da humanidade. Como nos motiva o Papa Francisco, que possamos, com Jesus, reconfigurar e recompor o tecido da nossa história de vida, “as ruturas e os rasgões”[...], “renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus”.

Em termos práticos, levando em conta o contexto de pandemia, que estamos vivendo, três indicações práticas merecem destaque:

Primeiro: Assim como Cristo foi elevado aos céus, nós também devemos elevar nossa autoestima, o nosso ânimo, a nossa esperança, devemos renovar a nossa confiança na continuidade da sua presença entre nós.

Segundo: Vamos aproveitar da realidade do distanciamento social para recordar e contar histórias reais, boas e engraçadas de personagens típicos que conhecemos em nossas cidades de origem, histórias de nossas famílias e que “mergulhando dentro das histórias, possamos voltar a encontrar razões heroicas para enfrentar os desafios da vida” (Papa Francisco) e enfrentar também a pandemia.

Terceiro: Vamos exercitar e retribuir gentileza com gentileza para que, passada a pandemia, possamos colher bons frutos da experiência de distanciamento social melhorando e qualificando o nosso relacionamento, a nossa comunicação, melhorando a nossa convivência em família, entre os pares, os colegas, os parceiros, os amigos, entre nós, seres humanos.

Permitam-me abrir um parêntese, neste particular, quando falamos de que ‘gentileza gera gentileza’, para ressaltar o exemplo negativo do presidente da República, Jair Bolsonaro, com todo respeito e consideração ao cargo de maior autoridade da nossa nação, em nome da caridade cristã e por força do múnos profético que devo exercer, ressaltar a sua falta de gentileza, de habilidade, de cordialidade, de urbanidade e até de civilidade em sua  fala com um tom de voz agressiva, hostil, com uso de muitos palavrões e de um vocabulário chulo como pudemos observar nas entrevistas diárias e no vídeo da reunião com os ministros que foi divulgado.

Mereceria que, na condição de cristão e de chefe de estado, pudesse refletir sobre sua postura neste tempo de pandemia, sobre o conteúdo dos seus pronunciamentos, sobre seu exemplo negativo de fé, sobre a sua responsabilidade de ser, para nós, cidadãos, uma referência. É vergonhoso o conteúdo, o palavreado, as expressões e comparações usadas nos seus discursos e entrevistas. “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Mas, o respeito à vida, à solidariedade com os que sofrem, o amor ao próximo também devem ser levados em conta e são compromissos prioritários dos cristãos.

Que a celebração da Ascenção do Senhor seja uma oportunidade de renovação das nossas forças, das nossas perspectivas, da nossa esperança, da nossa alegria, do respeito mútuo e  de renovação para sermos instrumento de paz. Amém!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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