01 de Junho de 2020

Homilia - Solenidade de Pentecostes


Homilia - Solenidade de Pentecostes

(At 2,1-11; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23)

A liturgia é uma ação sagrada para o povo e seu objetivo é atualizar o mistério pascal de Cristo no desenvolvimento do Ano Litúrgico e em cada celebração eucarística. Assim sendo, tivemos a oportunidade e o privilégio de, neste período da pandemia do novo coronavírus, vivendo a realidade desafiadora do distanciamento social, algumas pessoas que foram infectadas pela Covid 19, com martírio do isolamento social e de muitos que perderam seus entes queridos, experimentar o referido mistério nas suas dimensões de paixão, morte e ressurreição, sendo desafiados a iniciar um processo de vida nova. Os que faleceram vítimas fatais da Covid 19 e outros falecidos por outras causas terão a garantia da vida eterna.

Terminado o Tempo da Páscoa e, hoje, com a celebração da Solenidade de Pentecostes, recebendo mais uma vez o Espírito Santo e seus sete dons, no contexto do fim da atual pandemia, somos desafiados a iniciar uma nova página da nossa história abrindo-nos a um processo de renovação interior, dispostos a colaborar na edificação de um mundo melhor e na transformação da sociedade; comprometidos em realizar as mudanças e adaptações de “um novo normal” para o andamento da vida e das relações humanas, a valorização da tecnologia e do digital, da nova configuração administrativa e funcional das organizações sociais públicas e privadas; dispostos para lutar e defender o meio ambiente, a dignidade da pessoa humana e a vida do seu início até o seu ocaso; empenhados no processo de renovação das entidades e das instituições em todos os níveis, principalmente religioso.

Pentecostes é um convite a recomeçar, a recriar, a renovar tudo e de fazer novas todas as coisas a partir dos dons do Espírito Santo. Pentecostes é um apelo à superação do medo, da insegurança, da dúvida, da indefinição, do marasmo, da falta de iniciativa e de coragem para fazer o novo acontecer.

É nesta perspectiva que a Palavra de Deus, hoje, proclamada, nos oferece algumas indicações bem concretas:

Na 1ª leitura dos Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo é apresentado como "a força de Deus", através de dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36) e se manifesta em forma de língua de fogo. As línguas não são somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços e vínculos duradouros entre as pessoas. "Falar outras línguas" é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização... É superar a mentalidade de Babel (cf. Gn 11,1-9), onde os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento para dar lugar ao diálogo, ao entendimento, à comunicação, à aceitação e à convivência com o diferente.

Na segunda leitura, Paulo lembra que os "dons" que recebemos do Espírito Santo não podem gerar conflitos e divisões, mas devem servir para o bem comum; para fortalecer e vivenciar a unidade, respeitando a diversidade; para reforçar o valor da união, da integração, da comunhão, da vivência comunitária.

No Evangelho, João apresenta uma das aparições de Jesus aos discípulos, depois de ressuscitado, que aconteceu ao “anoitecer” de um domingo.

Portanto, um período do dia que sinaliza escuridão, destacando que as portas da casa estavam fechadas por medo dos judeus e os discípulos que demonstravam receio, pavor, desânimo, fraqueza e insegurança. Uma situação mais ou menos parecida com a que estamos vivendo, tendo como causa principal as consequências da pandemia do novo coronavírus.

Durante a referida aparição, Jesus fez uma saudação que transmitiu um despertar e uma força transformadora capaz de reverter aquela realidade, dizendo: “A paz esteja convosco”.

Naquele contexto e também para a realidade de distanciamento social e de isolamento social que estamos vivendo, a "paz" deve ser compreendida e recebida como um dom divino, significando, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que permite aos discípulos e, a nós, a superação do medo e da insegurança.

A partir desta compreensão, nem o sofrimento, nem a hostilidade, nem a doença, nem a dor, nem o flagelo, nem a morte poderão gerar sentimento de derrota, de desespero, de angústia, de desolação, de ansiedade, de amargura porque Jesus ressuscitado está no meio de nós. Em seguida, Jesus "mostrou-lhes as mãos e o lado". São os "sinais" que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao ser humano, no momento da sua criação (Gn 2,7). A partir de então, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados a dar continuidade a missão do Mestre que segue até nossos dias através da igreja.

Neste Pentecostes de 2020, temos motivos justificáveis para suplicar ao Espírito Santo, ânimo e coragem para prosseguir, esperando o amanhecer de um novo dia, o início de um novo tempo depois desta pandemia, marcados por novas perspectivas de vida, pelo compromisso de realizar novos sonhos, de redescobrir novos valores, de realizar novos planos e novos empreendimentos, de encarar os desafios com garra e disposição para vencê-los.

Mais do que nunca, precisamos, neste Pentecostes renovar nossas forças, nossa esperança, nossa confiança em Deus, nosso amor pela santa igreja, nossa confiança na família, nossa disposição para amar, servir, perdoar e partilhar; devemos abrir o nosso coração para colher a paz, que somente Cristo Ressuscitado poderá nos oferecer e pedir a graça  de poder festejar o fim desta pandemia, a descoberta de uma vacina contra a COVID-19, a liberdade de poder ir e vir,  de poder encontrar a quem amamos e consideramos, a alegria de poder comemorar e celebrar a festa da  vida  com um abraço bem apertado. Com a graça de Deus, com a força do Espírito Santo, com fé no amado Jesus Senhor do Bonfim e na Virgem Maria, breve, muito breve, estaremos nos encontrando, nos abraçando e celebrando um novo Pentecostes!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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