08 de Junho de 2020

Homilia - Solenidade da Santíssima Trindade


Homilia - Solenidade da  Santíssima Trindade

(Ex 34,4b-6.8-9; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-18)

Neste domingo, depois de Pentecostes, celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade. Celebramos o maior mistério da nossa fé que deve ser reconhecido, reverenciado e a sua mística deve ser vivida por cada um de nós, batizados, como núcleo central da nossa espiritualidade.

“A Solenidade, que hoje celebramos, não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor”.

Neste tempo de pandemia, quando estamos sendo motivados a ficar em nossas casas, podemos aproveitar para refletir sobre o mistério do amor que está dentro de cada um de nós e, assim, superar a instabilidade emocional, a insegurança, o medo, o desânimo. Podemos fazer também um processo de renovação espiritual libertando-nos do egoísmo, do individualismo, da indiferença, do apego a bens materiais, das diversas dependências e de outros problemas que impedem uma abertura total para que a graça de Deus possa atuar na nossa vida.

Nesta perspectiva, a segunda leitura apresenta um convite: “Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco”.

Celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade é assumir o compromisso de dar um mergulho no mistério da fé que recebemos como dom no dia do nosso Batismo e descobrir ou redescobrir as verdadeiras caraterísticas de Deus, nosso Pai, primeira pessoa da Santíssima Trindade, apresentadas na primeira leitura: “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”. Um Deus que caminha conosco, que compreende nossas limitações, nossa “cabeça dura” e, mesmo assim, “perdoa nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua”. Assim, poderemos superar a concepção de um Deus vingativo, castigador, puritano, que amedronta, que condena, que pune, que castiga.

Neste dia, somos motivados a descobrir que a Trindade Santa  é  modelo de relações profundas de amor, de misericórdia, de unidade, de comunhão perfeita; modelo de relações que respeita a liberdade, valoriza a complementariedade e a igualdade estimulando a superação das divisões, das competições, das desigualdades, dos preconceitos e das demais concupiscências humanas que geram discriminação, segregação, marginalização, violência como acontece nos Estados Unidos e  todos os dias, aqui, no Brasil, na Bahia com assassinatos de jovens negros residentes nas periferias e constantes chacinas que vão dizimando vidas de muitos inocentes. 

Nas últimas semanas, mesmo estando em distanciamento social, foram noticiadas as mortes de homens, jovens e crianças inocentes, vítimas do racismo, do preconceito, como exemplo, a morte de George Floyd, nos Estados Unidos, que gerou uma onda de protestos, com as mais diferentes pessoas, por pedido de justiça e de atenção ao povo negro e, aqui, no Brasil, dentre tantos casos, o assassinato do adolescente João Pedro de 14 anos, que brincava dentro de casa; da morte do  pequeno Miguel de 5 anos, filho da empregada doméstica (negra), que foi deixado sozinho, pela patroa de sua mãe, dentro de um elevador.

Daqui, da Colina Sagrada, queremos denunciar todo tipo de violência, queremos suplicar o fim do racismo, da discriminação, dos preconceitos contra os negros e contra os povos de diferentes etnias, vistos como minoria; suplicar o fim dos preconceitos cultural, religioso, sexual, social, linguístico, etc. Queremos lembrar que todos possuem o direito de serem quem são e não devemos ter medo disso.  

Meus irmãos e minhas irmãs, devemos compreender que Jesus é a personificação do amor do Pai, que tem a missão redentora de perdoar e salvar, fazendo a entrega da própria vida. Que Ele, na sua infinita misericórdia, veio ao mundo não para condenar, não para discriminar, não para causar divisão e competição, mas para trazer a graça da redenção, da salvação.

Vamos aproveitar o tempo que temos neste período de distanciamento social para rever nossos conceitos, para avaliar nossas concepções, para fazer uma nova leitura dos acontecimentos históricos, para refletir sobre certas atitudes, expressões e reações preconceituosas. Esta pandemia lembra-nos que não há diferenças nem fronteiras entre os seres humanos. “Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos [...] É tempo de remover as desigualdades, sanar a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira. Aproveitemos esta prova como uma oportunidade para preparar o amanhã de todos. Sem descartar ninguém, de todos, porque, sem uma visão de conjunto, não haverá futuro para ninguém” (disse o Papa Francisco).

A Santíssima Trindade revela uma vida de comunhão e de amor perfeito, que deve ser reconhecida como origem e meta de todo o universo e de cada criatura; que deve ser modelo de verdadeira comunidade para toda sociedade, para as famílias e principalmente para a Igreja. Logo, na Igreja, devemos valorizar e vivenciar a vida comunitária como sinal concreto que manifesta a fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo; valorizar e vivenciar a vida comunitária como compromisso que possa favorecer um testemunho, de modo que os que nos veem, nos conhecem possam dizer: “Vejam como eles se amam”!

A Comunidade Cristã é composta por uma pluralidade de pessoas que também devem se amar.

Na Comunidade Trinitária, cada uma das Pessoas glorifica a outra. O Filho glorifica o Pai, o Espírito glorifica o Filho, o Pai, glorifica o Filho, e assim sucessivamente. Na Comunidade Cristã, ninguém deve buscar a própria glória, mas, cada qual presta serviço para que Deus seja glorificado e para o bem da Igreja. Na Comunidade Trinitária, cada membro realiza sua obra com perfeição, cada qual para um determinado fim. O Pai é criador, o Filho redentor e o Espírito, santificador. Entretanto, o Filho também é criador e santificador e o Pai, também é salvador e santificador. O Espírito, por sua vez, também é criador e salvador. Na Comunidade Cristã, cada qual também deve buscar realizar com perfeição, com dedicação, com empenho um serviço, pode exercer um ministério, pode assumir uma missão com perseverança, fidelidade e corresponsabilidade.

Sejamos conscientes de que a Igreja é uma comunidade de pessoas, que colocam a serviço uma diversidade de dons e carismas que emanam de um mesmo espírito.

Nós que somos engajados numa comunidade, esforcemo-nos para fazer das nossas comunidades uma semelhança da Trindade Santa. Isto é, um lugar de convivência fraterna, de partilha, de comunhão, de diálogo transparente, de perdão, de reconciliação, de acolhimento mútuo, de escuta e obediência aos nossos pastores, de oração, de exercício da misericórdia e da caridade.

Assim seja!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim



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