22 de Junho de 2020

Homilia - 12º Domingo do Tempo Comum


Homilia - 12º Domingo do Tempo Comum

(Jr 20,10-13; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33)

Eu sempre gosto de ressaltar que a liturgia vai conduzindo cada um de nós para melhor compreender o que acontece à luz da fé; vai respondendo as nossas inquietações, oferecendo motivações bem concretas que nos fortalecem na caminhada. Para isto, é preciso fazer uma relação das leituras com a realidade da nossa vida pessoal, familiar, eclesial e social.

Continuamos enfrentando as consequências da pandemia do novo coronavírus e os desafios do distanciamento social. As informações, que recebemos diariamente sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, com relação a esse flagelo, assusta, gera apreensão, impotência, medo e tantas outras sensações de insegurança. Não sabemos por quanto tempo tudo isso vai perdurar; não sabemos o que acontecerá depois do pico da pandemia e nem como será a realidade do “novo normal” que certamente iremos viver.

Neste cenário, caracterizado pelo pavor e pela incerteza, a passagem do Evangelho deste 12º Domingo do Tempo Comum apresenta Jesus transmitindo uma mensagem de estímulo, de confiança e de esperança convidando-nos a acreditar e confiar no seu poder e na sua proteção afirmando três vezes: “Não tenhais medo”. A repetição por três vezes da expressão “Não tenhais medo” é uma espécie de refrão proposital que estimula, que dá coragem para que possamos enfrentar os desafios, as decepções, as tristezas, a doença, a morte de um ente querido, qualquer tipo de crise e, neste momento de pandemia, um alento e estímulo muito oportuno.

Em todas as adversidades da vida, é preciso superar a dúvida, a indecisão e o medo pondo a nossa confiança somente em Deus, Naquele que está acima de tudo, Naquele que é o todo poderoso e Senhor do tempo e da história, Naquele que é o mesmo de ontem, de hoje e de sempre. O medo é uma reação, um estado emocional, involuntária que revela instabilidade, provoca indecisão, gera dúvida e é contrário à fé que estimula, que suscita confiança, que sustenta propósitos e que estimula a coragem.

O Papa Francisco disse que “O medo não é cristão; é um comportamento de quem tem a alma aprisionada, presa, sem liberdade de olhar para frente, de criar e fazer o bem... e que o medo faz mal.” Que as pessoas “não cedam ao medo” e se concentrem em uma “mensagem de esperança”. Que num mundo “oprimido pela pandemia, que coloca uma dura prova à nossa grande família humana”, é preciso responder com o “contágio da esperança”, afirmou.

A 1ª leitura mostra que o profeta Jeremias corria sérios riscos de vida, em consequência das denúncias feitas com relação às injustiças cometidas e à opressão imposta pelos governantes da época. Ele foi abandonado por todos, inclusive por seus amigos que lhe voltaram às costas e juntaram-se aos que tramavam a sua condenação.

Neste contexto de perseguição, Jeremias eleva um hino de louvor, expressando a sua confiança no Deus que não falha, testemunhando que o Senhor está ao seu lado como um forte guerreiro e que por isso os que o perseguem serão derrotados.

Nesta realidade de distanciamento social, tenhamos também a certeza de que não estamos sozinhos, mesmo que estejamos solitários em nossas residências, mesmo que não tenhamos nenhuma companhia, Deus se faz presente, está ao nosso lado como um forte defensor. Faço esta afirmação, porque sei que muitos, devido ao fato de estarem sozinhos, de não poderem receber visitas, por ficarem tanto tempo isolados, podem cair na tentação de desanimar, podem ter a sensação de abandono, de solidão.

Tenham certeza! Nós nunca estamos sozinhos. Acho muito interessante, bonito e vejo como um testemunho de fé, quando escuto algumas pessoas, que estão sozinhas em suas casas, dizerem: Não estou só, Deus está comigo! Que beleza! É verdade: nós, que temos fé em Deus, nunca estamos sozinhos. Acreditem! Ele está conosco. Ele é uma companhia invisível, porém marcante, real e fiel.

Na 2ª leitura, São Paulo afirma que o pecado entrou no mundo através de um só homem, Adão, e que a morte é consequência do pecado de todos os homens, porém, Jesus Cristo nos oferece a graça da redenção e da Salvação como dons dados pelo Pai.

Que este tempo de pandemia sirva para tomarmos consciência dos nossos pecados pessoais; sirva para identificarmos alguns e graves pecados cometidos pela humanidade e que a experiência do distanciamento social seja uma oportunidade para uma séria revisão de vida dos atos pessoais, dos pecados sociais em vista de uma renovação interior e da perspectiva de contribuir para a existência de um mundo melhor, mais humano, mais fraterno e mais solidário.

A liturgia de hoje nos estimula a sermos confiantes na proteção divina, nos garante que o olhar providencial do Pai estará sempre voltado para nós, seus filhos e filhas, guardando-nos e protegendo-nos de todo mal e que o amor de Deus por nós é imenso e a sua salvação nunca falha como afirma o salmista (Sl 68,2).

Estamos no terceiro mês de recolhimento dentro de nossas casas. Continuaremos acreditando que este é um sacrifício necessário para o nosso bem e para o bem do outro; para preservar a nossa vida e a vida dos outros; para conter a feroz pandemia deste novo coronavírus. Vamos permanecer perseverantes até que, conforme as orientações das autoridades competentes, possamos enfrentar com total responsabilidade a nova realidade do “novo normal” que irá exigir de todos nós outros compromissos para evitar uma nova onda deste flagelo.

Coragem! Estando vivos, vamos aprender a conviver com os desafios do tempo presente e aproveitar tudo que de bom acontece. Não podemos nos abater, não podemos desanimar. Deus é a nossa força e a nossa esperança. Amém!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim



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