29 de Junho de 2020

Homilia - Solenidade de São Pedro e São Paulo


Homilia - Solenidade de São Pedro e São Paulo

(At 12,1-11; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

O dia 29 de junho é dedicado aos Apóstolos São Pedro e São Paulo, tendo São Pedro um destaque maior. Ele teve maior projeção na piedade popular e apenas seu nome é mencionado nas chamadas e tão propagadas festas juninas. Conforme o calendário litúrgico, trata-se de uma importante solenidade que nos possibilita celebrar, de maneira intensa, o mistério da Igreja e recordar a sua origem apostólica.

Os dois apóstolos, por causa da missão que receberam e do testemunho que deram de entrega de suas vidas por Cristo, são considerados modelos de cristãos, de discípulos e colunas da Igreja. Eles são reverenciados desde as primeiras comunidades cristãs como mártires e, através da história, reconhecidos por caracterizarem as duas faces da Igreja: a institucional e a missionária. Nos dias atuais, são venerados, tomados como referência pelos batizados e consagrados comprometidos do nosso tempo.

Pedro e Paulo foram duas pessoas com diferentes comportamentos e atitudes, cada um com suas características particulares com as quais podemos nos identificar fez, com naturalidade, um processo de conversão. Pedro era um homem que manifestava certa insegurança, inconstância e instabilidade. Às vezes, rude. Ele demonstrava altos e baixos, acertos e desacertos a ponto de trair o seu Mestre, negando conhecê-lo por três vezes, porém, em certos momentos, revelava sinais de sabedoria e de convicção confessando sua fé em Cristo e demonstrando disposição para segui-lo até a morte.

Paulo era judeu, foi perseguidor fanático do cristianismo, era valente, muito hábil e, por ter tido uma visão de Jesus ressuscitado, converteu-se, passando a direcionar seu potencial à pregação do Evangelho e à criação de comunidades cristãs. Fez muitas viagens missionárias, escreveu várias cartas contidas na Bíblia que nos oferecem ensinamentos diversos e importantes para que possamos viver com fidelidade, perseverança e convicção o nosso batismo, a nossa vocação.

Meditando sobre a vida de cada um, nós certamente nos identificamos com um ou com outro, mas o ideal é que possamos aprender um pouco com cada um deles, fazendo uma síntese daquilo que possa nos ajudar a viver a espontaneidade e a sinceridade de Pedro, a fazer a experiência de conversão, conforme São Paulo, e adquirir o seu ardor missionário.

As leituras apresentadas nesta liturgia mostram um pouco da missão que eles receberam, as consequências do seguimento e a recompensa recebida de Deus Pai.

Conforme o evangelho, depois de Pedro reconhecer a messianidade de Jesus, respondeu dizendo: “Tu és o Messias, o filho do Deus vivo”, por isso foi confiado a ele o ministério de conduzir a comunidade, isto é, a Igreja nascente. Hoje quem exerce esse serviço é o papa. Serviço caracterizado pela missão de animar os irmãos na fé, congregar na unidade, fomentar a comunhão e anunciar a Boa Nova. É ele quem recebe “as chaves do reino dos céus” e o poder de ligar e desligar, sinais da responsabilidade pastoral, que consiste no encargo de governar o povo de Deus, de conduzir os homens e mulheres de boa vontade para o caminho do bem, a vivência da fraternidade e a prática da justiça.

Jesus dá a Simão o nome de Pedro, que significa “pedra”, destacando a importância da missão que será assumida, liderando o grupo dos apóstolos. Na Bíblia, aquele que recebe uma grande missão muda de nome para caracterizar as exigências da vocação e a mudança ocorrida na sua vida. É por esse motivo que tradicionalmente um novo papa ao ser eleito muda de nome.

A leitura dos Atos dos Apóstolos mostra que os discípulos continuam a ação de Jesus, enfrentando as mesmas dificuldades do seu Senhor, ou seja, o processo de martírio. O texto destaca que Tiago foi morto golpeado pelas espadas dos soldados, satisfazendo a fúria de Herodes. Relata a prisão de Pedro e sua libertação milagrosa da prisão, conduzido por um anjo do Senhor. Assim, entendemos que o anúncio do evangelho não pode ser interrompido por ações humanas e que Deus protege os seus escolhidos.

A carta a Timóteo apresenta o testemunho de Paulo como um verdadeiro testamento deixado para servir de estímulo para todos os cristãos que sofrem tribulações. Ele deixa um legado de fidelidade, de perseverança; deixa o exemplo de confiança na recompensa divina pela missão cumprida e a consciência de glorificar a Deus pelas ações realizadas.

Neste dia, expressamos a nossa gratidão a Deus pela vocação, pelo exemplo, pelo testemunho de vida de São Pedro e São Paulo, pelo dom do ministério petrino exercido pelos papas no decorrer da era cristã e, atualmente, pelo papa Francisco que vem dando à Igreja um novo vigor, vem nos mostrando uma renovada fisionomia da Igreja que deve estar sempre de “portas abertas”, mostrando uma face “misericordiosa e alegre”, características de “igreja pobre para os pobres”, com “capacidade de curar as feridas e de aquecer os corações dos féis, a proximidade”,” uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente”. De quem está distante. Uma igreja “casa de todos”.

Meus irmãos e minhas irmãs, são muitos os apelos de um Papa verdadeiramente pastor que diz sonhar com uma igreja “mãe e pastora”.

Obedientes aos seus apelos, estamos juntamente com a Devoção do Senhor do Bonfim, irmandade responsável pela manutenção e conservação deste Templo, com os abnegados voluntários e dedicados colaboradores nos esforçando para que esta Basílica possa funcionar com uma estrutura pastoral própria de um Santuário, isto é, de um lugar de peregrinação, de manifestação da piedade popular; lugar do encontro conosco mesmo, com os irmãos e com Deus; lugar privilegiado para ajudar o peregrino a rezar, a fazer e celebrar a sua reconciliação consigo mesmo, com o outro e com Deus, bem como para que este templo ofereça um ambiente acolhedor, solidário e misericordioso conforme a sua característica de Mansão da Misericórdia.

A Solenidade de São Pedro e São Paulo é uma celebração bem relacionada à igreja. Portanto, a todos nós que fazemos parte deste corpo eclesial, devendo oferecer o melhor de nós para, na atualidade, deixar transparecer uma fisionomia de gentileza, delicadeza, esperança e paz.

Disse o Papa Francisco: “...no pós-pandemia. A Igreja deve estar preparada para acolher as pessoas fragilizadas não como uma alfândega cheia de exigências e fardos pesados, mas como uma mãe misericordiosa conduzindo as pessoas ao encontro com a pessoa de Jesus Cristo e integrando-as na comunidade de fé”.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim



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