06 de Julho de 2020

Homilia – 14º Domingo do Tempo Comum


Homilia – 14º Domingo do Tempo Comum

(Zc 9,9-10; Rm 8, 9.11-13; Mt 11,25-30)

No contexto atual, iniciamos o mês de julho, segundo semestre do ano de 2020, marcado pela surpresa da pandemia do novo coronavírus, que teve seu início na primeira quinzena de março, obrigando-nos a entrar num processo de distanciamento social, ficando isolados em nossas residências, sem nenhuma preparação, sem saber das suas exigências e consequências, nem da sua duração.

Fomos obrigados a usar máscaras; a higienizar constantemente as mãos, lavando com água e sabão, usando álcool em gel; a fazer uma minuciosa higienização das compras e objetos comprados, a fazer o uso constante de água sanitária e do sabão para limpeza rigorosa das casas e de roupas, a cultivar hábitos que não faziam parte da nossa cultura e dos nossos costumes. Assim, já se passaram 3 meses e, ao que tudo indica, devemos continuar ainda por algum tempo cumprindo as referidas orientações, devendo nos preparar para viver uma realidade denominada de “novo normal”.

Nesta conjuntura  de surpresas e expectativas, Jesus, no Evangelho, que acabamos de escutar, depois de louvar a Deus por ter escondido dos sábios e entendido a revelação das coisas do Reino e a revelada aos pequeninos, faz um apelo e um convite bem propício para cada um de nós neste momento difícil e de muitas incertezas: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu julgo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso”.

O referido convite expressa que, numa situação como a que estamos vivendo, devemos nos voltar para Ele, receber  seu braço e colocar, nos seus ombros, os fardos do nosso cansaço, as nossas angústias, os nossos medos, as nossas dúvidas, os nossos temores, pânicos, pavores, receios, distúrbios psicológicos ou emocionais, necessidades financeiras, crises e tudo aquilo que tem gerado em nós inquietação e até desespero.

Quando Jesus percorria os caminhos da Galileia, anunciando a Boa Nova do Reino, curando os doentes, sentia compaixão pelas multidões, porque estavam cansadas e abatidas “como ovelhas sem pastor” (Mt 9, 35-36). Aquele olhar de Jesus parece alargar-se até hoje, até ao nosso mundo e alcança a cada um de nós individualmente. Também hoje Ele olha para toda humanidade que vive ameaçada pela ação de um vírus invisível e devastador e que sofre outras ameaças e crises que geram resultados desastrosos e prolongados; que sofre as consequências de guerras, de violências, de desastres ecológicos e de reações da natureza que devastam cidades e ceifam a vida de muitos. E, nesta circunstância, o Senhor chama para Si todos os homens, pois andamos sob o peso das nossas fadigas, lutas e tribulações.

O verdadeiro remédio para as feridas da humanidade, quer materiais, como a fome e as injustiças; quer psicológicas e morais causadas por um falso bem-estar, por catástrofes, pandemias e outros acontecimentos dolorosos é uma regra de vida baseada no amor fraterno, que tem a sua fonte no amor de Deus. Por isso, é preciso abandonar o caminho da arrogância, da prepotência, da opressão, da violência utilizada para obter posições de poder sempre maiores, para garantir o sucesso a qualquer preço. 

Ao lado de Cristo, todas as fadigas se tornam amáveis, tudo o que poderia ser custoso no cumprimento da vontade de Deus se suaviza. O sacrifício, quando se está ao lado de Cristo, não é áspero e duro, mas amável. Ele assumiu as nossas dores e os nossos fardos mais pesados. O Evangelho é uma contínua prova da sua preocupação por todos: “Ele deixou-nos por toda a parte exemplos da sua misericórdia, escreve São Gregório Magno. “Ressuscita os mortos, cura os cegos, os leprosos, os surdos-mudos, liberta os endemoninhados… Por vezes, nem sequer espera que lhe tragam o doente, mas diz: Eu irei e o curarei: Mesmo no momento da morte, preocupa-se com os que estão ao seu lado. E ali entrega-se com amor, como propiciação pelos nossos pecados. E não só pelos nossos, mas também pelos pecados de todo mundo”.

Neste momento, precisamos tomar consciência de que devemos continuar cumprindo as recomendações das autoridades sanitárias e da OMS, devemos procurar equilibrar o nosso emocional, cultivar a perseverança, a paciência, a tranquilidade para encarar com disposição e compromisso as orientações procedimentais e atitudinais com relação à nova realidade que devemos nos adequar até que seja oferecida uma vacina que possa erradicar a covid 19. Devemos continuar usando máscaras, evitando aglomerações, mantendo o distanciamento social e outros cuidados por um bom tempo.

Vamos perseverar cultivando a alegria, exultando de alegria no Senhor, como nos incentiva a primeira leitura. Vendo, analisando e avaliando os acontecimentos ou as atitudes das pessoas, não segundo a carne, mas segundo o Espírito de Cristo que mora em nós, conforme afirma São Paulo na segunda leitura. Nós necessitamos cultivar pensamentos e propósitos positivos, o ânimo, o bom humor; evitar lamentações e queixas, nós “necessitamos do Espírito Santo, dom de Deus que nos cura do narcisismo, da vitimização e do pessimismo; cura do espelho, das lamentações e da escuridão”, assim disse o Papa Francisco na sua homilia no dia de Pentecostes - 2020.

Portanto, coragem! Vamos olhar para frente e recolher dos três meses passados os aprendizados, as lições que possam nos ajudar a encarar a vida de modo diferente e animador, de modo leve procurando prosseguir em frente cultivando a humildade, a simplicidade, a pureza de coração, a transparência, como nos ensina Jesus no Evangelho de hoje. Termino propondo uma peregrinação individual. Aproveite que as portas da frente da igreja do Bonfim estão ficando abertas das 9h às 16h, venha até aqui e deixe, nos ombros do Senhor do Bonfim, na sua cruz, os seus fardos, os seus medos, os seus desânimos, a sua depressão, as suas doenças  e o que mais lhe angustia, para livremente continuar a caminhada rumo a uma nova fase da vida pessoal e disposto (a) a virar uma página desta história, em vista de um mundo mais humano, mais fraterno, mais solidário, mais misericordioso, mais solidário... Amém!

 

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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