13 de Julho de 2020

Homilia - 15º Domingo do Tempo Comum


Homilia - 15º Domingo do Tempo Comum

(Is 55,10-11; Rm 8,18-23; Mt 13,1-23)

O tempo vai passando, nós vamos vencendo as dificuldades, superando os desafios, prosseguindo a nossa caminhada procurando cultivar a fé, a coragem, a esperança de dias melhores e a certeza de que, a tempestade causada pelo vendaval do novo coronavírus, vai passar. Já atravessamos uma longa extensão do mar revolto com ondas bastante agitadas e agora vamos começar a navegar em águas mais calmas na perspectiva de aportar em terra firme e aí fixar morada para semear boas sementes que possam produzir frutos em abundância.

Acabamos de escutar uma das mais bonitas e mais emblemáticas passagens do Evangelho e, certamente, bem conhecida de todos: A parábola do semeador, que nos convida a fazer um processo de discernimento, escolha e decisão para saber identificar a terra boa onde deveremos pisar, arar, semear para poder colher bons frutos na nova fase da nossa história, nesta próxima etapa de pós pandemia, que devemos preparar para enfrentar com garra e disposição, para reinventar e driblar os desafios.

Para nos ajudar no desenvolvimento deste processo de decisões e escolhas, o texto, que acabamos de escutar, está didaticamente dividido em três partes: Na primeira, a narração da parábola (vers. 1-9); na segunda, um conjunto de "ditos" sobre a função das parábolas (vers. 10-17) e, na terceira, a explicação sobre a parábola (vers. 18-23).

Na primeira, encontramos uma descrição sobre a atuação do semeador que saiu a semear as sementes em terrenos com consistência, densidade e propriedades diferentes, evidenciando o que aconteceu “algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram.” “Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente”.

Para que possamos fazer um itinerário de mudança de vida, que implique em tomadas de decisões e escolhas, é necessário que, como semeador, tenhamos a disposição de sairmos de nós. José Saramago, um escritor português, disse que “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.” O Papa Francisco também afirma: “O bom cristão sai, está sempre em saída de si mesmo...” isto é, está disposto a fazer a experiência do exame de consciência, da revisão de vida para identificar o que deve ser mudado, o que deve ser deixado para trás, deve ser renunciado, na perspectiva da conversão.

Então, depois desse primeiro passo, devemos saber o que queremos, onde desejamos chegar, e o que devemos fazer, quais as consequências, os desafios e as vantagens. Assim, nossas decisões não serão momentâneas e facilmente deixadas de lado, como as sementes que caíram à beira do caminho, não serão inconsistentes como as sementes que caíram em terreno pedregoso, não serão sufocadas como as sementes que caíram no meio dos espinhos, e sim maturadas, amadurecidas e decididas com convicção favorecendo o bem, a realização, a colheita de bons frutos.

Na segunda parte, temos uma declaração sobre a função das parábolas (vers. 10-17), recurso pedagógico usado por Jesus, para catequizar, para evangelizar, provocando nos seus ouvintes o desejo de tomar uma decisão, o desejo de mudar. Quem aceita fazer a referida experiência de mudança, ganhará muito e receberá mais e em “abundância". Quer dizer, entrará, cada vez mais, na dinâmica do "Reino"; mas quem não a acolher (apesar da clareza e da acessibilidade da mensagem), está a rejeitar o "Reino" e a possibilidade de integrar a comunidade da salvação.

Os que compreendem as parábolas e aceitam a realidade que elas propõem, estes  serão "felizes", porque abriram o coração às propostas de Jesus, escutaram as suas palavras, viram e entenderam os seus gestos e sinais; são "felizes" porque (ao contrário daqueles que endureceram o coração e fecharam os ouvidos à proposta de Jesus) já integram o "Reino".

Na terceira parte, uma explicação da parábola (vers. 18-23), mostra os benefícios do acolhimento do Evangelho, ressaltando que para as mudanças  acontecerem, não depende nem da semente, nem de quem semeia; mas depende da qualidade da terra, isto é, da disposição da pessoa para assumir o compromisso de querer escutar a Boa Nova, de praticar seus ensinamentos, de querer mudar, de querer fazer uma experiência de conversão. Assim sendo, para acolher a Palavra ou para tomar uma decisão, há várias atitudes e reações das pessoas. Há aqueles que facilmente se deixam levar ou influenciar por outros. Alguns têm um coração duro como o chão de terra batida dos caminhos: a Palavra de Jesus não poderá penetrar nessa terra e dar fruto e suas resistências interiores, não favorecem transformações. Há aqueles que têm um coração inconstante, capaz de se entusiasmar instantaneamente, mas também de desanimar perante as primeiras dificuldades: a Palavra de Jesus não pode aí criar raízes e suas decisões são momentâneas. Há aqueles que têm um coração materialista, que dá sempre prioridade à riqueza e aos bens deste mundo: a Palavra de Jesus é aí facilmente sufocada por esses outros interesses dominantes e o egoísmo favorece o fechamento da pessoa a qualquer tipo de mudança. Há também aqueles que têm um coração disponível e bom, aberto aos desafios de Deus e à conversão: a Palavra de Jesus é aí acolhida e dá muito fruto e a pessoa experimenta os resultados positivos da sua transformação e da sua mudança de vida.

A primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda, criadora de vida e transformadora. Quando vivenciada, indica-nos os caminhos que devemos percorrer dando-nos a esperança e o ânimo necessário, para prosseguir a nossa caminhada testemunhando que é possível mudar e colaborar para a construção de uma sociedade justa e solidária; que é sempre eficaz e produz efeitos de mudanças, embora não atue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios.

Na segunda leitura, São Paulo mostra que nada se consegue, nem o Espírito gera o novo no mundo e em nós, sem a nossa efetiva participação. Vamos tomar consciência do que precisa mudar em nós, para que seja realmente nova a realidade que iremos viver depois desta pandemia do novo coronavírus; uma realidade caracterizada pela solidariedade, fraternidade, justiça e paz. Assim seja!

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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