20 de Julho de 2020

Homilia - 16º Domingo do Tempo Comum


Homilia - 16º Domingo do Tempo Comum

(Sab 12,13.16-19; Ro 8,26-27; Mt 13,24-43)

Continuamos atravessando este tempo árido, intempestivo e conturbado da pandemia global do novo coronavírus, marcado por crises existênciais, desequilíbrio emocional e psicológico que atingiram muitas pessoas, gerando crises no seio de muitas famílias como consequências do distanciamento e do isolamento social; crises no setor industrial, nas instituições, nas áreas da saúde, da economia, da política e de tantas outras que desafiam a sociedade e o mundo; além de crises situacionais e de fé. A liturgia deste 16º Domingo do Tempo Comum vem nos convidar a interiorizar a lógica de um Deus que nos ajuda a olhar o mundo e os acontecimentos da vida com resignação e esperança; a descobrir as características de um Deus paciente, misericordioso, bom e a acreditar que o Espírito Santo vem em socorro da nossa fraqueza.

No Evangelho, Jesus conta três parábolas. A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio (vers. 24-30). Trata-se de um quadro da vida quotidiana naquela época e de um contexto rural: Houve um homem que semeou boa semente no seu campo, à noite, veio seu inimigo e semeou o joio. Os empregados responsáveis, preocupados com uma desastrosa e futura colheita, foram procurar o dono da plantação para comunicar o ocorrido, ficando surpreendidos com a sua reação, pois foram orientados para que deixassem crescer trigo e joio lado a lado e só na altura da colheita fosse feita a separação um do outro e, dessa forma, conseguiria evitar que arrancando o joio, arrancassem também o trigo. Isto possibilitaria a separação dos grãos com facilidade e sem equívocos.

Com esta orientação, aprendemos que devemos encarar as dificuldades, os desafios da vida, as crises com equilíbrio, firmeza e serenidade procurando descobrir as causas; identificar os responsáveis; tomar consciência das consequências e saber a hora certa para tomar uma decisão, para escolher o melhor, para iniciar ou encerrar uma ação. O momento de dar a resposta certa, na hora certa, de iniciar ou encerrar uma missão, um mandato, o exercício de uma profissão. O momento exato de dizer sim ou não.

A parábola do grão de mostarda (vers. 31-32) evidencia que a referida semente é muito pequena e, no entanto, pode dar origem a uma grande e frondosa árvore, sinalizando que pequenas atitudes, pequenas decisões, pequenas escolhas poderão dar resultados significativos e com efeitos duradouros.

A parábola do fermento, que uma mulher mistura com três porções de farinha parecendo algo insignificante, mostra que uma ação modesta, uma simples iniciativa, uma atitude criativa ou a capacidade de reinventar como vem acontecendo neste contexto de pandemia com muitas pessoas, poderá resolver diversos problemas, diversas crises; pode gerar êxitos, consequências significativas e ainda indica que qualquer pessoa por mais humilde e simples que seja pode possuir ou descobrir potencialidades surpreendentes!

Com as três parábolas, Jesus nos ensina que, conforme a lógica do Reino, em qualquer circunstância da vida e, sobretudo, em tempos difíceis de crises, de pandemia como estamos vivendo, é necessário tomar a decisão certa, no momento certo e oportuno; que é importante acreditar que pequenas decisões poderão surtir grandes efeitos e uma simples iniciativa pode gerar êxito e sucesso grandioso.

A 1ª leitura nos apresenta características bem particulares do nosso Deus. Ele é único, cuida de nós e de todas as coisas com carinho e atitudes paternas, atua com sua força e poder para nos proteger. Seu princípio é a justiça, tem o domínio sobre todas as coisas e respeita o livre arbítrio, responde a quem acredita na perfeição do seu poder e aqueles  que o conhecem, julga com clemência, ensina que o justo deve ser humano, nos conforta, nos concede esperança e nos perdoa sempre.

Nosso Deus é misericordioso e bom. Ele não está interessado em castigar os pecadores como muitos pensam. Mas, faz-nos compreender que com a pedagogia de um pai cheio de amor compreende nossas fraquezas, espera a hora do nosso arrependimento, nos perdoa e nos acolhe em seus braços e no seu coração.

Somos, portanto, privilegiados e, para confirmar o referido privilégio, a segunda leitura garante que o “Espírito vem sempre em socorro da nossa fraqueza, pois nem sempre nós sabemos o que pedir nem como pedir”. E acrescenta que o próprio Espírito intercede sempre em nosso favor, ouvindo nossos apelos, nossos pedidos.

Meus irmãos e minhas irmãs, é Deus que nos dá a força de viver segundo o Espírito Santo e nós devemos continuamente pedir a Deus, nosso Pai, essa graça.

Tenhamos a certeza de que o Espírito do Deus Vivo atua na história do mundo e na vida de cada um de nós, sem nunca nos abandonar; de que o Espírito oferece-nos cada dia a força e o poder de Deus, leva-nos ao encontro de Deus, faz com que a nossa voz chegue ao coração de Deus. É preciso, no entanto, que, da nossa parte, haja disponibilidade para acolher e dar atenção aos sinais através dos quais Ele nos conduz nos caminhos da história e nos leva ao encontro de Deus. Acolher o Espírito é sair do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência e procurar descobrir, com humildade e simplicidade, os caminhos de Deus, os seus apelos e os seus sinais e apelos de libertação e de conversão.

Que estejamos nos preparando para que depois desta pandemia possamos enxergar o mundo com um outro olhar, encarar a vida de uma outra maneira, proceder e agir de modo diferente, admitindo que somente “Deus é o Senhor” (Sl 85,2), que somente Deus é grande e nós somos todos iguais, somos todos irmãos.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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