27 de Julho de 2020

Homilia – 17º Domingo do Tempo Comum


Homilia – 17º Domingo do Tempo Comum

(1Rs 3, 5.7-12; Rm 8, 28-30; Mt 13,44-52)

Continuamos, neste domingo, ouvindo Jesus contar mais três parábolas: A parábola do tesouro escondido no campo; a parábola da pérola de grande valor e a parábola da rede lançada ao mar para, mais uma vez, nos falar sobre os mistérios do Reino dos céus. Isto é, do sonho de Deus, do seu regime de justiça, da sua soberania sobre o mundo, de uma realidade de bem-estar pleno e de paz verdadeira. Quem não quer experimentar? Quem não deseja encontrar? Portanto, é algo que se deve almejar, buscar e procurar conquistar fazendo todo esforço necessário e exige renúncias, sacrifícios para possuí-lo.

Para encontrar o Reino dos céus, cada pessoa deve desfazer-se de si mesmo, dos valores falsos deste mundo; do apego aos bens materiais, das vaidades e do poder terreno. Vale a pena renunciar a tudo para possuir o tesouro do Reino.

A expressão Reino de Deus ou Reino dos céus aparece mais de 120 vezes no Novo Testamento. Constitui o conteúdo da mensagem de Jesus: Jesus pregou o Reino de Deus e o introduziu em seus “sinais” em sua prática libertadora.

Na dimensão pessoal, é nutrir uma vida espiritual coerente, experimentar a paz em sua plenitude e viver na graça de Deus, fazendo verdadeiramente a sua vontade a exemplo de Jesus Cristo. Os valores principais do Reino de Deus são a verdade, a justiça, a fraternidade, o perdão, a liberdade, a alegria e a dignidade da pessoa humana.

Na dimensão social, é revolução absoluta. Isto é, de tudo seja do homem, da sociedade ou do mundo. É mais que transformação e revolução política ou social. É a transformação de toda criação, de todo universo. É uma realidade de bem-estar pleno. É libertação integral. É desalienação completa do homem frente a todas as forças anti-Reino (doenças, pecado, injustiças e morte), em função de mais vida, mais paz, mais graça e salvação.

A terceira parábola fala sobre a a rede que lançada ao mar, apanha peixes de todo tipo e, após a pescaria, os pescadores escolhem e separam os peixes bons, jogando fora os que não prestam. Esta ação evidencia uma atitude de escolha que precisamos fazer para que o reino possa acontecer. A separação das coisas, isto é, daquilo que serve e do que não serve, daquilo que é benéfico e do que prejudica, daquilo que merece confiança e do que não sabemos a sua importância.

Na vida cotidiana, nem sempre sabemos escolher e decidir: a melhor coisa para fazer; a melhor opção ou escolha a ser feita; a melhor decisão a ser tomada; o melhor caminho a ser seguido; o momento certo para uma resolução, os cuidados necessários para livrar-se de contágio. Nesta realidade de pandemia, quantas pessoas ficam vulneráveis ou são infectadas por não ter consciência da gravidade da situação, das reais consequências de uma infecção, dos riscos da possibilidade de infectar outras pessoas. E, neste momento de flexibilidade para abertura do comércio, dos templos e de outros estabelecimentos, é necessário prudência, respeitar protocolos, proceder com espírito de corresponsabilidade.

Jesus nos convida a fazer um exercício de discernimento, isto é, a adquirir a capacidade de saber distinguir entre o bem e mal, mostrando que o Reino é dom gratuito, manifestado na sua pregação e na sua prática. Por isso, afirma: “... todo mestre da lei que se torna discípulo do reino dos céus é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (v.52). A esse achado, no momento certo, corresponde despreendimento total, alegria, realização. Ser discípulo do Reino dos céus exige administrá-lo sabiamente como um pai de família para que sua mensagem ilumine e transforme o novo caminho a ser seguido, favorecendo sempre o bem.

Na primeira leitura, Salomão nos dá um grande exemplo de sabedoria e de capacidade para escolher o melhor e o essencial, assumindo a missão de governar o povo de Israel. Tendo em sonho escutado a voz de Deus propondo que ele pedisse o que quisesse ou que mais fosse necessário, responde: “Dá, pois, ao teu servo um coração compassivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e mal” (v 9).

E, São Paulo, na primeira leitura, garante que Deus capacita aqueles que Ele chama, uma vez que em Cristo Jesus, todos são chamados a possuírem o tesouro, pois “sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (cf. v 28 ).

Meus irmãos e minhas irmãs, encerrando esta nossa reflexão, pedimos então a Deus a graça de ter a capacidade de poder renunciar a tudo o que for necessário para buscar encontrar a nossa felicidade, buscar encontrar o que mais necessitamos para o nosso bem, buscar encontrar Jesus. A sabedoria e o discernimento necessários para saber sempre escolher o melhor para nós, sem contudo visar satisfazer o nosso egoísmo e qualquer tipo de vangloria. E, nesta fase da pandemia, tenhamos consciência de que a mesma não acabou e que só será vencida pela solidariedade responsável e comprometida de todos nós; pela nossa capacidade de cuidar e proteger-nos uns aos outros; pela disposição para fazer renúncias e até sacrifícios, em vista do bem maior que é a nossa vida.

Que possamos continuar aprendendo com as dificuldades e os desafios enfrentados, em vista da nossa conversão pessoal e de um mundo melhor.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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