09 de Agosto de 2020

Homilia - 19º Domingo do Tempo Comum


Homilia - 19º Domingo do Tempo Comum

(1Rs 19,9. 11-13; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33)

Recordando a vocação à vida familiar e celebrando hoje o dia dos pais, iniciamos a Semana Nacional da Família com o seguinte tema: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24, 15), ressaltando a importância, a grandeza e a alegria da família que tem o privilégio de envolver todos os seus membros nos serviços e ministérios da Igreja;  no engajamento em uma comunidade paroquial, numa capela ou em um santuário católico, na assistência aos mais necessitados, na ação evangelizadora e pastoral de uma Igreja Particular.

Neste ano, a Igreja renova o convite para que as famílias continuem atuando na messe do Senhor, partilhando as experiências vividas e servindo com disponibilidade e alegria.

Meus irmãos e minhas irmãs, neste contexto de reconhecimento do valor da troca de dons entre a família e a Igreja, para superação de dificuldades, o Evangelho, que escutamos, evidencia que Jesus, depois de ter realizado o milagre da multiplicação dos pães e saciado a fome de milhares de pessoas e certamente de muitas famílias, que eram atraídas pela sua pregação, pelo seu exemplo de vida, atravessou para o outro lado do mar de Tiberíades para orar a sós em uma montanha. Ali, Jesus permaneceu até a noite e seus discípulos foram de barco ao seu encontro.

O mar estava agitado, devido ao forte vento, causando inquietação, insegurança, pavor e muito medo. Naquela realidade de desespero, por volta das três horas da manhã, eles, os discípulos, foram surpreendidos com Jesus caminhando sobre a água que identificaram e/ou confundiram com um fantasma.

O referido acontecimento pode ser relacionado às várias situações de tempestades que enfrentamos no mundo, na sociedade e, principalmente, na família, e que podem ser superadas com a nossa capacidade de recomeçar, de lutar, de reinventar como vem acontecendo neste tempo de pandemia. Para melhor compreensão desta relação, podemos entender os diversos elementos simbólicos apresentados na narrativa do texto que, sem ferir o sentido teológico, podem ser relacionadas à vida familiar e aos seus membros:

O cenário onde tudo acontece é o mar de Tiberíades ou o lago da Genesaré, com 21 quilômetros de comprimento e 12 de largura situado na Galileia, concentrando grande quantidade de água doce.

Para os judeus, este lago é considerado para todos os efeitos, um "mar" e lugar onde habitavam os monstros, os demônios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da teologia judaica, no mar, o homem estava à mercê das forças demoníacas e só o poder de Deus podia salvá-lo.

Portanto, o mar com suas profundezas, possibilidades de riscos e tempestades recorda o mundo dominado pelo mal. O mar também simboliza a vida presente, a instabilidade do mundo visível.

Exatamente, neste mar, navegava um pequeno barco, que conduzia os discípulos, caracterizado por sua vulnerabilidade. O barco é o símbolo da travessia da vida e da morte, da superação das dificuldades. O barco representa a viagem cumprida ao longo da vida.

A tempestade indica todos os tipos de tribulações, de desafios que atingem a pessoa humana e a família.

No auge da tempestade, Jesus vê o desespero dos discípulos e vai em socorro deles, caminhando sobre as águas. Gesto simbólico que manifesta a divindade de Jesus. O medo e a escuridão da noite fazem com que os discípulos confundam Jesus com um fantasma e duvidem do seu poder. Os referidos sentimentos podem ser relacionados à falta de coragem dos membros de uma família para reconhecer, para enxergar, para enfrentar os problemas em busca de soluções.

Como Pedro, os membros de uma família, que enfrentam dificuldades, devem ir ao encontro de Jesus para não submergir no mar da frustração, da decepção, de desespero... Jesus é o Senhor do tempo, da natureza, da história e tem domínio sobre o mal.

Para superar as desilusões, para saber navegar em águas tranquilas, é necessário fazer uma profunda experiência de Deus, a exemplo de Elias que, mesmo dentro de uma gruta, soube identificar a hora que Deus passou e onde Ele estava: no murmúrio de uma brisa suave. Que nós, como o Apóstolo Paulo, possamos reconhecê-Lo acima de todas as coisas.

A família pode ser agitada pelos ventos fortes, que sopram de todos os lados provocando ondas gigantescas, que ameaçam o naufrágio de suas reais finalidades, porém, procurando cumprir com fidelidade a missão confiada por Deus, sustentada pela nossa oração, guiada pelo Espírito Santo, “a família continuará sendo para todo ser humano a barca que serve de base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que os guiarão durante a vida” (João Paulo II).

Quero concluir fazendo um apelo para os pais, cujo dia hoje comemoramos, retomando palavras do Evangelho e da 2ª leitura, os elementos apresentados na 1ª leitura a respeito dos sinais da manifestação de Deus:

  • Como Jesus, os pais não devem transmitir medo para seus filhos, e sim, confiança, coragem e amor;
  • Como Cristo estendeu a mão para salvar Pedro, estendam a mão para o filho que pede socorro ou a sua ajuda;
  • Sejam verdadeiros, falando sempre a verdade e evitando mentir;
  • Os pais devem dar atenção a todos os filhos, mas cuidem dos mais problemáticos, dos mais difíceis;
  • Pais, não sejam impetuosos como o vento forte;
  • Não sejam desastrosos como um terremoto;
  • Não sejam furiosos como o fogo;
  • Sejam carinhosos, dóceis, calmos e serenos, conforme o murmúrio e a leveza da brisa;

Assim como o Senhor nos dará sempre tudo o que é bom (cf. Salmo responsorial), cada pai deve se esforçar para dar o melhor de si para sua família e para seus filhos; deve se esforçar para ser um pai bondoso, prestativo, atencioso e generoso.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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