24 de Agosto de 2020

Homilia - 21º Domingo do Tempo Comum


Homilia - 21º Domingo do Tempo Comum

(Is 22,19-23; Rm 11,33-36; Mt 16,13-20)

Neste quarto domingo do mês de agosto, celebramos a vocação do leigo, isto é, dos fiéis que são engajados nas comunidades, paróquias, capelas, santuários, em outros ambientes eclesiais e na sociedade prestando vários serviços e exercendo ministérios como voluntários. Os leigos são chamados por Deus para assumir, com grande amor e generosidade, sua missão específica na Igreja e no mundo. Uma missão abrangente que tem vários campos de ação como a família, o ambiente de trabalho, a escola, o mundo da política e da cultura, os movimentos populares e sindicais, os meios de comunicação e outros. Nestas realidades, os leigos são chamados a testemunhar, pela palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo, a ser sal, luz e fermento.

Neste espírito do mês vocacional, a liturgia nos motiva a responder uma pergunta fundamental: Quem é Jesus? O Evangelho, que escutamos, ajuda neste discernimento e compreensão.

Em primeiro lugar, Jesus é reconhecido e confundido pelos “homens” com “João Batista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”. Nesta perspectiva, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo do Pai, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). 

Para os discípulos, a compreensão sobre a pessoa e a missão de Jesus vai além da opinião comum, e Pedro se torna porta voz da resposta mais acertada dizendo: Jesus é “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos, resumem-se o entendimento e a verdade sobre sua pessoa e sua missão. Dizer que Jesus é “o Cristo”, significa afirmar que Ele é o Messias, o Salvador, o libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo. Também ressalta que Jesus é “Filho de Deus” e que tem uma relação filial, de comunhão e particular com o Pai.

Então fica claro que Jesus não é um conceito, nem um sentimento, não é um simples profeta, um filósofo, um grande pensador, um curandeiro, um revolucionário, um bom político, mas uma Pessoa que ensina um estilo de vida e torna-se referência de obediência ao Pai, é o Senhor e Salvador, vivo e presente entre nós. É a Palavra feita carne, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É caminho verdade e vida.

A declaração feita por Pedro da sua convicção acerca da origem divina, da missão salvífica de Jesus fez com que ele escutasse a seguinte resposta do Mestre: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.

A referida resposta transformou sua personalidade, possibilitou a sua conversão e definiu a sua nova missão concedendo-lhe a responsabilidade de chefiar o grupo dos apóstolos, tornando-se sinal de unidade e, aos seus sucessores, a função de pastorear e guiar o povo de Deus.

Da resposta de Pedro e de sua adesão ao Projeto do Pai, nasce a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada sob sua pessoa.

Todo referido processo é caracterizado pela mudança do seu nome: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16,18). Assim sendo, Pedro é a pedra sobre a qual Jesus quis edificar a Sua Igreja. É preciso destacar o que Jesus diz “a Minha Igreja”. Usou um pronome possessivo “Minha”; ela é propriedade Sua, é o Seu próprio Corpo e Ele a quis construída sobre o Simão, cujo nome é Pedro.

Na Bíblia, quando Deus muda o nome de alguém, é porque está dando a essa pessoa uma missão. Para o judeu, o nome da pessoa tinha algo a ver com a sua identidade e missão.

Não resta dúvida, portanto, que Pedro e seus sucessores são a Pedra angular, visível, que Cristo, Pedra angular invisível, quis na sua Igreja. Jesus quis essa pedra visível para que ela mantivesse a unidade da Igreja e a integridade da sua doutrina, na verdade, que liberta e salva. Após a Ressurreição, Jesus confirma Pedro como o pastor de todo o rebanho.

Desde os primeiros séculos da Igreja, o Bispo de Roma, o Papa, exerceu o primado na Igreja, assumiu o lugar de Pedro. O Papa é então, sucessor de Pedro, sinal de unidade entre nós, é aquele que nos confirma na fé e na caridade.

A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de atualizar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher, na comunidade, todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Ele oferece.

Assim, a Igreja, guiada pelo Espírito Santo, continua a missão e a ação de Jesus no mundo anunciando a salvação, a Boa Nova do Seu Evangelho, tornando-o reconhecido como o Senhor Supremo, como o centro de nossas vidas, pois “tudo é dele, por ele e para ele!”, como afirma São Paulo na 2ª leitura.

A  Igreja é constituída de pessoas humanas. O Papa, os bispos, os padres, os diáconos, os religiosos, os leigos são homens e mulheres chamados a seguir Jesus Cristo com disposição para fazer uma experiência de conversão, para imitar o seu estilo de vida; com o compromisso de cultivar a fidelidade, a perseverança, a humildade, o desapego, a disposição para servir com o firme propósito de fazer renúncias específicas conforme as exigências da missão recebida. Quando estas pessoas procedem de modo contrário, desviam-se do caminho, transmitem um contratestemunho, podem causar escândalo, porém aqueles que se esforçam vivendo com coerência a sua vocação iluminam o mundo com o testemunho de vida, suscitando nos outros o desejo de conhecer e seguir a Cristo Jesus, cabeça da Igreja que constitui o seu corpo místico.

Deus sempre chama pessoas humanas, limitadas, pecadores esperando que sejam abertas à conversão e dispostas a alcançar a salvação. Neste mês vocacional, somos todos convocados a renovar os nossos compromissos de discípulos e discípulas do Senhor, de fidelidade e coerência, de correspondência à confiança que a Igreja nos concedeu, de sermos preservados do vírus do orgulho, da avareza, da soberba; da ganância pelo poder, pelo dinheiro, pela fama, pela riqueza de bens materiais. Peçamos a graça da humildade, da simplicidade, do desapego, da liberdade, de servir em nome da Igreja e do seu Senhor.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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