25 de Junho de 2014

Reflexão sobre a Copa do Mundo de 2014 no Brasil

Primeiro tesoureiro da Devoção do Senhor do Bonfim comenta sobre o torneio


Reflexo sobre a Copa do Mundo de 2014 no Brasil

Do que nos ensinaram na escola, sabemos que patriotismo, do grego patriótes (patício), é o sentimento de orgulho, amor, devoção à Pátria e aos seus símbolos (bandeira, hino, vultos históricos, riquezas naturais e patrimônio material e imaterial).

Muitas vezes o nacionalismo é utilizado como sinônimo. Porém podemos dizer que o nacionalismo é considerado uma ideologia ou um idealismo que leva as pessoas a serem patriotas.

Assim, patriotismo pode ser considerado também, como o espírito de solidariedade entre pessoas que tenham interesses comuns, constituindo um Estado, e que ao viver sob as mesmas leis, as respeitem com ânimo maior que o ânimo que empregamos na defesa de ambições particulares.

Pois é, de algum tempo para cá, quando começa a Copa do Mundo, o patriotismo do brasileiro desperta de um sono profundo de quatro anos e espalha-se por ruas, avenidas, calçadas, ônibus e aeronaves, num onipresente mar verde amarelo.

Nos dias da Copa somos possuídos por um inédito ardor cívico, temos imperiosamente de torcer pelo Brasil, e qualquer crítica em relação a seleção, seus jogadores, técnicos, patrocinadores, e o seu destino induvidosamente glorioso será interpretado como traição a pátria, quando não gravíssima ofensa moral.

Políticos corruptos são esquecidos e suas malandragens são perdoadas desde que tenham contribuído para a euforia geral fazendo estádios que nunca serão utilizados.

Notícias de TV, rádio e jornais inflamam-se confundindo informação com publicidade, exaltando jogadores, técnicos e suas namoradas com o status próximo ao de semideuses.

A publicidade inunda nossos olhos e ouvidos em manchetes ufanistas. Somos os melhores. Somos o país do futebol. Temos a pátria na ponta da chuteira dos nossos jogadores.

Perplexos e tontos verificamos que se comparamos com o dia da Independência do Brasil ou mesmo da Proclamação da República, constatamos que os nossos descendentes de tupiniquins e tupinambás que se fantasiam de verde e amarelo na Copa, ouvidos nas entrevistas dos telejornais, não sabem explicar o que se comemora nos citados feriados.

O que se sabe é que vestir verde e amarelo ou colocar uma bandeira do Brasil na janela em 7  de setembro é lamentavelmente considerado “mico” pelos jovens e “cafona” pelos mais velhos.

Confesso que não me deixo contagiar pela onda verde e amarela nos dias de jogo da Seleção Brasileira, pois, vendo diuturnamente o mau humor e a descrença no país, custo a crer que o espetáculo ufanista revelador de personalidade ciclotimia, com tremendas oscilações comportamentais depressivas e eufóricas sejam a verdadeira face do nosso povo.

Acho que seria melhor se não depositássemos nosso entusiasmo abobalhado nos Julios Cesares, Hulk’s e Neymares patrocinados pelas multinacionais dos artigos de esporte ou no notório Felipão e dona Olga Scolari que estão ganhando o seu honesto dinheirinho fazendo propaganda para Peugeot, Bompreço e Extra, vendendo carro, telefone, banana, cerveja e açúcar.

Para concluir essas mal traçadas linhas sobre a Copa de “fuleco e Felipão” lembro aos meus pacientes e generosos leitores até aqui que Copa do Mundo nós podemos até perder e já perdemos algumas inclusive a realizada aqui no Brasil em 1950.

O que não podemos perder, além da vergonha, é a capacidade de nos indignarmos com as mazelas e a mediocridade do nosso cotidiano, onde passivamente ouvimos e acreditamos em estórias da carochinha sobre viadutos, metros, portos e aeroportos que a Copa iria deixar como legado ao povo brasileiro.

Contudo, devemos sim torcer pela Seleção Brasileira com a energia e o amor com que acompanhamos nossos times no dia a dia. Tricolores e rubro-negros podem e devem torcer para que os jogadores da dita seleção canarinho trate a pobre da bola apelidada de “fuleco” com o carinho e a gentileza que os nossos ídolos Zizinho, Didi ou Gerson no passado a tratavam e reconheçamos todos finalmente que o futebol e a seleção é um bem imaterial do povo de um país chamado Brasil.

Crédito: Francisco Jose Pitanga Bastos


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